"Os maus temem as tuas garras, Os bons alegram-se com a tua graça. Algo assim gostaria de ouvir sobre o meu verso." B. Brecht
sexta-feira, janeiro 29, 2010
Mais relatos de Barcelona (resumidos e publicados no facebook)
26) Ainda não tenho almofada;
27) Estou a aprender catalão com 3 hondurenhos, 3 argentinos, 2 peruanos, 1 sueca, 1 marroquina, 1 andaluz, 2 galegas, 2 madrilenos e 1 catalã regressada à pátria;
28) Depois de muito... explicar numa papelaria que queria comprar cola descobri que em castelhano cola diz-se... cola!
29) Já tenho almofada! (descobri-a no fundo de um armazém chinês. Custou-me 2 euros);
30) Descobri que há milhares de crianças a andar nos autocarros;
31) Conheci o bar da Elsa e os melhores mojitos de Barcelona (estou perdida!);
32) Há obras de arte aqui que parecem obras e obras que parecem obras de arte;
33) Também há muitas crianças no metro;
34) Passei o fim-de-semana no congresso do PCC - nunca fui tão apaparicada na minha vida;
35) Continuo a achar que a palavra mais gira do catalão é lletrejar (soa como lhatrejar e significa soletrar);
36) Conheci uma paraguaia comunista;
37) Ontem tive um momento de epifania;
38) Hoje caiu-me um anjo italiano no colo - uma espécie de Brad Pitt convidou-me para tomar café. Ainda estou encadeada pelas luzes;
39) O meu professor de catalão diz que só num mundo perfeito se conseguem distinguir foneticamente os bês dos vês - ViVa o português! Bisca Catalunya!
quinta-feira, janeiro 28, 2010
quarta-feira, janeiro 27, 2010
terça-feira, janeiro 26, 2010
Quero filmes do Moretti
Confesso! Não me apetece escrever um conto sobre um gigante e um anão que são muito amigos e depois se perdem um do outro.
Queria antes ver o filme do Nanni Moretti (viver em Barcelona lembra-me constantemente os filmes dele - hei-de escrever sobre isto!), aquele musical sobre o pasteleriro trotskista na Itália dos anos cinquenta.
sexta-feira, janeiro 22, 2010
UM LUGAR ADEQUADO
Começa com uma canção dos pioneiros romenos sobre o "Ano 2000" e depois desenvolve sobre como, volvidos mais de 20 anos de capitalismo, as pessoas sentem-se enganadas e desmobilizadas.
Deixo a letra em castelhano.
UN LUGAR ADECUADO
Intro:
Somos niños pero no lo seremos siempre
Plenos de sorpresas, plenos de amor
Miramos hacia el futuro
Sabemos que nos vais a mostrar el camino
incontables flores y palacios
para que tengamos mañana oro y pan
Vosotros sois nuestros heroes
pero un dia lo seremos nosotros.
Estrofa 1:
Tambien se que ha pasado mucho tiempo
y que pasara mucho mas
presiento que todavia en diez años estare
con los mentirosos y con los que huyen
dejalo asi, el rumano esta hecho para ahogar
su amargura con sangre fria
Cuando encuentra un problema lo deja pasar
con una cerveza fria
Dime por que robas, cuanto tiempo quieres
seguir robando
No ves que somos muchas bocas y todos sabemos
que significa aguantar
Pero cuantas caidas aguantar, cuanto te alegras,
cuanto insultas
Tienes ganas de muchas cosas pero sabes que
nunca tendras suficiente
estribillo:
Pere no pasa nada, soy resignado desde niño
Tu eres consciente de lo que digo
No hemos nacido en el lugar adecuado
No, no, no hemos nacido en el lugar adecuado
No hemos recibido nada, hemos hecho todo
desde cero
Pere no pasa nada, soy resignado desde niño
Tu eres consciente de lo que digo
No hemos nacido en el lugar adecuado
No, no, no hemos nacido en el lugar adecuado
No hemos recibido nada, hemos hecho todo desde cero
Estrofa 2:
Los mios son igual de seguros como los tuyos
Hemos crecido con cardenales
Me han enseñado como no tomar caminos equivocados
Me han explicado que el mundo es malo y la vida dificil
Y tengo que hacer algo
Me han dicho que en algun momento moriran
Y que tengo que estar alerta y tengo que luchar
Que el tiempo se pasa como un disparo
Me llevan de lugar en lugar
Me cambian segun la suerte
Me hacen correr solo para un voto
El mundo siente, quiere hechos y no palabras
Que un hombre normal sea presidente
Pero, pero, pero
Estribillo
quarta-feira, janeiro 20, 2010
segunda-feira, janeiro 18, 2010
Exercícios deprimentes
Amo a Eustace a pesar de que me lleva cuarenta años, es totalmente mudo y no tiene ningún diente. Me da igual que Eustace esté completamente calvo- excepto los pelos esos que se le ven entre los dedos de los pies-, que cuando ande se le note la joroba y a veces se caiga en medio de la acera. Si cree que tiene que emitir uno de esos cortos sonidos agudos suyos como silbando, o si se le da por mordisquear con su boca sin dientes en el sofá o irse a dormir al jardín, yo lo acepto todo como cosas bastante normales. Porque le amo. A Eustace le amo porque es el único hombre del mundo al que no le importa que yo tenga tres piernas.
“Eustace”. Tanith Lee.
Depois de muito magicar sobre o assunto, cheguei à conclusão que o Eustace e a/o Três Pernas eram um só.
Quis fazer uma ilustração em que se conseguisse ver os dois personagens distintamente mas que ao mesmo tempo nos pudéssemos aperceber que era um só. A coisa não ficou muito conseguida. Saiu-me isto:
domingo, janeiro 17, 2010
Da vinculação à raiva
Comecei o dia cheia de expectativas – desde que cheguei a Barcelona que quero aprender catalão. Mas as magras economias não me dão para pagar um curso. Vi no site da UAB (Universidade Autónoma de Barcelona) que há cursos gratuitos para os alunos. A minha escola, Eina, apesar de privada, está vinculada à UAB. Tudo e todos indicavam que como aluna teria os mesmos direitos que os restantes alunos da universidade. Lá fui eu, toda lampeira, até à dita cuja universidade.
Bem, não tão lampeira quanto isso… que não paguei o bilhete do comboio e ia borradinha de medo.
Chego à universidade e procuro o acolhimento a estudantes estrangeiros. Sou depois encaminhada ao serviço de línguas. Dizem-me que tenho de passar duas faculdades e tal e coisa. Lá me vi eu a andar num lamaçal e a fazer gincanas. Chego ao sítio e subo as escadas. Dão-me a notícia: “Eina no es UAB. Tines que pagar 527 euros. Los cursos gratuitos son para los estudiantes de la UAB”. “Hijos de puta!” e o resto saiu-me para dentro e em português: “vão mas é roubar p’á estrada!”. Ainda consegui perguntar: “Entonces… que es la vinculación de Eina a UAB?”, “Los estudiantes de Eina no tenien los mismos derechos?”. “Pues, no lo sé. Esto es lo que me han dicho, lo siento”. “Lo siento?…, lo siento?…, e se fosses mas é p’ó c...!”
A raiva tomou conta de mim e em menos que nada instalou-se-me uma dor de cabeça.
Voltei frustrada e comprei a merda do bilhete (mas só comprei uma zona). Cheguei à Praça Catalunha (o centro do universo) e almocei mesmo ali na estação. Saquei do farnel e com pena de mim própria engoli umas sandochas.
A coisa melhorou quando cheguei à escola. Lá me inteirei do funcionamento da sala dos computadores e da biblioteca. Ah! A biblioteca! Lembra-me um livrinho do Umberto Eco, chamado precisamente A Biblioteca. Uma torre de estantes e escadas laterais que nos levam a pequenos passadiços. Que nos permitem ver os livros à medida que subimos a torre. Numa das faces há pequenas janelas em cada “piso”. No último, quase inalcançável, onde estão os livros sobre ilustração e onde quase ninguém vai, sinto-me uma Rapunzel com vista para Barcelona.
Perco a hora e chego uns minutinhos atrasados à aula de escrita criativa. O professor pede que se descreva, primeiro o percurso até chegar ali. O ponto de partido fica ao critério de cada um. Eu começo com o dia a começar. Depois pede-nos que escrevamos o mesmo percurso mas só relatando as emoções. Diz-nos para escolher a emoção mais significativa e que a descrevamos na primeira pessoa. Escolhi obviamente a raiva.
E saiu-me este texto:
Sou vermelha e chego de repente.
Incendeio as pessoas por dentro e debaixo para cima. Reteso-lhes a garganta e faço-as ter consciência dos dentes. Obrigo-as a cerrá-los num desejo de morder até rasgar, até esmagar. Inflamo os olhos e transformo as mãos mais delicadas em garras poderosas.
Alojo-me na cabeça e transformo-me num vazio de fogo.
Aqueles que tomo, faço-os desligarem de si mesmos. Afasto-os da razão ou faço-os tomar consciência de que são impotentes, ou convenço-os que no imediato são impotentes.
O que é curioso, acho eu, é que a sensação negativa que a universidade me provocou serviu depois para fazer um trabalho para ela.
Sobre a Tortura
Para quem ainda tenha dúvidas em assinar o abaixo-assinado da ASEH sobre a não extradição dos cidadãos bascos e para quem ainda tenha dúvidas sobre a ilegitimidade, desumanidade e inconsequência da tortura, recomendo vivamente que vejam este video - resume de um debate realizado na ETB2 (TV basca), no início de 2008 (a propósito da hospitalização de Igor Portu depois de ter sido torturado).
Chamo à atenção para as declarações de Martxelo Otamendi, director do jornal Egunkaria, que foi torturado depois do encerramento do jornal, acusado de fazer parte do aparelho propagandístico da ETA.


