terça-feira, maio 10, 2005

ARTE DE TRANSFORMAR XXXII

A propósito dos 60 anos da derrota do nazi-fascismo

Poemas relacionados com "O Manual de Guerra Alemão"

*
Muitas coisas aumentarão com a guerra
aumentarão
As posses dos poderosos
E a pobreza dos que nada têm
O discurso dos governantes
E o silêncio dos governados.

*
Se se dividirem as terras dos Junkers
Não há necessidade nenhuma de conquistar as terras dos camponeses da Ucrânia.
Se se conquistarem as terras dos camponeses da Ucrânia
Mais terras terão os Junkers.

*
Os que estavam em guerra contra o próprio povo
Fazem agora a guerra aos outros povos
Aos antigos escravos
Outros devem juntar-se.

*
Sob as árvores da aldeia as raparigas
Escolhem os namorados
A morte
Também escolhe
É possível
Que nem as árvores sobrevivam.

*
Noite.
Os casais
Vão para a cama. As jovens
Mulheres parirão órfãos.

*
Os que vão envelhecendo vão
Depositar dinheiro nas caixas económicas.
Diante delas carros estacionam:
Vão buscar o dinheiro
Para as fábricas de material de guerra.

*
Para que conquistar mercados para as novas mercadorias
Que os operários fabricam?
Os operários
De bom grado ficariam com elas.

*
O Führer dir-vos-á: a guerra
É para quatro semanas - no Outono
já estareis de volta. Mas
O outono virá e passará
E denovo há-de vir e muitas vezes há-de passar
Sem que de volta estejais.
O pintor dir-vos-á: as máquinas
Encarregar-se-ão de tudo - muito poucos
Serão os mortos. Mas
Vós morrereis às centenas de milhares, tantos
Que em tempo algum, ou terra alguma, se viu morrer assim.
Quando eu ouvir dizer que estais no Cabo Norte
Ou na Índia, ou no Transval, saberei apenas
Em que lugar poderão um dia
ser encontrados os vossos túmulos.

Bertolt Brecht

2 comentários:

Anónimo disse...

Oi Nena!

É tão fixe o teu blog que estou de volta! Desta vez para copiar cenas poéticas que vou encontrando, espero que não te importes.
Parabéns mesmo pelo blog! Dá vontade de um dia ter um, só que como acho que não ia tratar bem dele como tu tratas do teu, seria como ter uma flor murcha no vaso.

Beijinhos.

Anónimo disse...

Destruiram os nossos jovens e as nossas memórias - disse à reportagem uma velha habitante de Serajevo.
Referia-se ao castanheiro centenário no parque central da cidade.
Lembrou que à sua sombra costumavam reunir-se namorados e guitarras.
mas foi um inverno longo e violento, sob cerco - o de mil novecentos e noventa e três, e o velho castanheiro também teve de ser abatido
para aquecer as pessoas.
Arderam os corações e as memórias dos namorados de Serajevo.
Rui Rodrigues