sábado, maio 07, 2005

Catarse com suporte literário

Primeira leitura
Patrick Suskind
Um combate e outras histórias – conto Amnésia in litteris

Um desabafo de alguém que não retém na memória as leituras que faz. Identifiquei-me muito com este conto. Eu também esqueço com facilidade os livros que leio, romances sobretudo. São poucos os que me ficaram gravados no cérebro. Uma dessas raridades, e ainda assim com lacunas no que toca aos pormenores, é o que descrevo a seguir.

Segunda leitura
John Steinbeck
Ratos e Homens (Of mice and man)
Conta a história de dois jovens que trabalham sazonalmente em grandes quintas nos EUA. Um deles, Lennie é descrito como uma criança gigante. É grande, corpulento, cheio de força e profundamente ingénuo (com algum atraso mental se bem me recordo). Tem uma enorme necessidade de manifestar o seu afecto. Fá-lo com ratinhos do campo; afaga constantemente os pequenos animais que, invariavelmente, acabam por morrer sob uma tortura de festas. A dada altura afeiçoa-se à mulher do dono da quinta (se a memória não me falha). O amor puro que sentia transfere-se episodicamente para ela: Lennie perdera mais um vez um dos seus animais de estimação, desta vez um cachorrito, e a mulher, sentido compaixão pelo rapaz, deixa-o fazer festas no seu cabelo que, levado pela sua imensa ternura dá-lhe um abraço mais apertado e mais festas pelo rosto e cabelo. Ela grita e ele assustado lança-lhe as mãos à garganta acabando por estrangulá-la.
O livro aprofunda ainda, com a subtileza de um grande romance, os muitos modos de entender e manifestar o amor e a amizade.

Terceira leitura

Bertolt Brecht
poema Da violência
Do rio que tudo arrasta se diz que é violento.
Mas ninguém diz violentas
As margens que o comprimem.

Serei eu agressiva e insensível por negar vezes sem conta esse afago que me sufoca ou será violento quem não entende o não e insiste em querer obrigar-me a aceitar, na esfera da minha intimidade, todo esse generoso carinho?

5 comentários:

Anónimo disse...

Eu entendo que a verdade é sempre visível, que ela está na nossa ideia e na nossa sensação, ambas com origem matérica no nosso corpo. Em suma, eu acredito que o corpo fala de muitas maneiras e a gente atenta deve confiar no que decide porque deve confiar nas próprias sensações, nas vozes do próprio corpo.
A intuição é sincera e acerta.
beijinhos.

Anónimo disse...

«Do rio que tudo arrasta se diz que é violento.
Mas ninguém diz violentas
As margens que o comprimem.»

Ainda hoje pensar neste poema é lembrar da minha super-amiga-irmã!
Lembras-te quando esta frase ondulou no screensaver do computador da associação? Foi durante um bom bocadão de tempo a frase emblemática da nossa linha de acção!

Anónimo disse...

Somos todos inspiraos por Brecht de algum modo. Deves te lembrar dos meus versos preferidos dele:

«Há homens que lutam um dia e são bons
Há homens que lutam um mês e são melhores
Há homens que lutam um ano e são muito bons
Mas há homens que lutam toda a vida
Esses são os imprescindíveis.»

beijinhos

Anónimo disse...

Sintetizando os dois poemas de Brecht, talvez desse para concluir que HÁ RIOS QUE SÃO IMPRESCINDÍVEIS!!

Anónimo disse...

E a luta continua...
Muitos beijinhos Nena!