terça-feira, julho 26, 2005

Até sempre ilha azul!

Foi bom. Apesar de tudo foi bom. Que me desculpem os faialenses pelo “apesar de tudo”. Mas não posso deixar de dizer que a integração nessa terra não é fácil. O povo é desconfiado e os círculos são fechados. Confesso que à partida achei que pudessem ser ainda mais inóspitos, depois vi que o ambiente era um pouquito mais cosmopolita, no entanto 15.000 pessoas são muito poucas pessoas. Salvo raras excepções, fiquei convencida que são os não-açorianos que dão vida à ilha. Todavia são não-açorianos que adoptaram a ilha como sua e talvez sejam esses os mais faialenses de todos. Isto é; aqueles que optaram pelo Faial. Esses sim, gostam de mostrar a sua bela terra!

Eu também não sou uma pessoa fácil. Pelo contrário; é-me difícil fazer amigos. O facto de não conhecer absolutamente ninguém na ilha agravou a situação. Descobri aí que sou tímida, muito tímida. Introvertida não, isso não sou, embora me ocupe muito dos meus pensamentos, projectos, sonhos. Falo facilmente com as pessoas, mas há sempre uma barreira difícil de transpor entre mim e os outros. Uma barreira de receios. Receios de quê? Da diferença, creio. Confio na humanidade, acredito na mudança, valorizo a responsabilidade, a crítica e a auto-crítica, o altruísmo, a honestidade. Estas são características que fazem de mim diferente. Infelizmente são poucos os sonhadores e os guerreiros da igualdade e por isso isolo-me. Custa-me ser olhada como uma perigosa ameaça ao status quo, custa-me ter de argumentar em favor do progresso, da justiça e da verdade. Para mim estes ideais são tão básicos que me é difícil ter de argumentar em favor deles. “Dona da verdade”? Julgo que não. Embora admita que posso ser muito intolerante e vista como uma presunçosa. Tenho um comportamento que me irrita a mim própria: tolero situações de abuso até ao limite, convenço-me de que as próprias pessoas tomam consciência das suas atitudes, quando a situação se torna insustentável rebento de cólera e torno-me rancorosa. Dificilmente perdoo ou esqueço. Sei que o meu fechamento é uma atitude muito estúpida para quem confia na humanidade. Deveria ser antes aberta, tolerante e afável. Mas não sou tão forte assim. É uma mágoa que transporto.

Enfim, a estadia no Faial foi uma viagem dentro de mim própria, mas receio bem aterrar em Lisboa sem saber que rumo tomar.

Mas foi bom. Foram bons os passeios no jardins, os banhos na piscina e no mar, os passeios na marina, o leite com café de manhã, a janela com vista para o Pico, algumas aulas, estender a roupa no terraço, etc. Vivi intensamente um a rotina muito dedicada a mim própria. Mas também me afeiçoei a algumas pessoas, das quais, antes de partir, já tenho saudades: O Luís (sobretudo do chá relaxante), O Fernando (e as suas apresentações PowerPoint), A Cristina (Ah! Que pessoa extraordinária!), o Gonçalo (Ah! Um génio da criação) e o José Decq Motta (velho farol).

Até sempre ilha azul!

4 comentários:

Anónimo disse...

Até que enfim que há novidades no teu blog. Essa data de Julho é mesmo Julho? É que tenho andado a visitar o teu blog regularmente e só agora é que vi o teu texto.
Gostei muito, para variar.

Bjs!

Anónimo disse...

Não, João, a nossa gaiata escreveu este texto só agora. Pôs-lhe foi a data de Julho! :)
Irene, queridíssima amiga, grande camarada, gostei muito. É bom ler um texto como este e saber que tudo aquilo é verdade. É muito bom conhecer-te bem. Gostamos de ti tal como és! (esta frase tirei dos diários da bridget jones, mas é muito apropriada!)

Anónimo disse...

Esqueci-me de assinar o post anterior! :) Sou a Luísa, claro!

Um abraço

Anónimo disse...

Gostei muito desta tua auto análise introspectiva-filosófica. Quanto à descrição que fazes do Faial vou tentar confirmá-la próximamente. É QUE ESTOU DE PARTIDA EM BREVE PARA O FAIAL E PICO!!! Roadrunner.