domingo, outubro 22, 2006

*Vermelhices (Comentários Políticos) XLVI*

Penso que devem andar a fumar coisas estranhas nas reuniões do Conselho de Ministros. Só assim se justifica a perda da completa noção da realidade que se denota nas afirmações dos governantes.
É bem real que o PS tem maioria absoluta e como tal, no quadro da legalidade governa a seu bel-prazer, ou melhor, desgoverna, É bem real que Cavaco Silva é a cereja no bolo do festim da prática das políticas de direita. E também é verdade que o capital e a direita têm a faca e o queijo. No entanto, apesar da tremenda manipulação de mentalidades, ainda não chegámos ao ponto de se admitir com leviandade que os governantes queiram calar a boca ao movimento sindical e a todas as vozes que discordam com as políticas praticadas.
É que a mão que corta o queijo ainda é a nossa. Isto é; as mentalidades podem ser manipuladas mas não podem ser reprimidas. E, embora a ideologia dominante seja a semeada pelo capitalismo, ainda não chegámos - e esperemos que isso não aconteça - ao ponto em que nos deixámos de indignar com os ataques que nos inflingem, ainda não achamos natural o desrespeito pelas nossas vidas.
Assim sendo, as ministeriais declarações que vem sendo feitas, como a já aqui referida do secretário de estado da Indústria, e a proposta da ministra Milu aos sindicatos, só podem ser fruto de um estado ébrio da governação.
Como pode a senhora ministra mandar os sindicatos calar os protestos dos professores em troca de os sindicatos se sentarem à mesa de uma sala na Avª 5 de Outubro? E o que dizer sobre esta notícia do Correio da Manhã?

"A chefe de gabinete do Ministério da Educação enviou uma carta à direcção da Federação Nacional de Professores (Fenprof) a pedir explicações sobre declarações de Mário Nogueira, dirigente do Sindicato de Professores da Região Centro, que usou a palavra “canalha” para descrever uma das propostas de alteração à carreira docente.
O comentário, conta Mário Nogueira ao CM, teve lugar numa reunião de corpos gerentes do sindicato, em Viseu. “Estava-se a falar de uma proposta de revisão do estatuto, segundo a qual uma professora que fosse mãe iria perder tempo de serviço e seria prejudicada na avaliação do desempenho”, diz. Apesar de classificar o momento como “um episódio fugaz e passageiro”, Mário Nogueira admite que criticou “de uma forma dura um Governo que tem medidas que prejudicam uma mulher que pretenda ser mãe”.

“Não chamei canalha à ministra”, garante o sindicalista, que acrescenta: “Se se pesquisar canalha no dicionário, a palavra significa infame. Era uma proposta canalha, uma atitude infame.”

Mário Nogueira não se arrepende da tomada de posição que assumiu. “Aquilo que digo e reitero é que quem propõe medidas que vão contra o direito de uma mulher à maternidade está a apresentar uma proposta infame”, resume.

A carta do Ministério deixou a Fenprof num estado de “revolta e indignação”, conta o sindicalista. “Foi dada uma resposta para pôr no lugar quem teve a iniciativa de a mandar”, refere Mário Nogueira. Mais grave, diz, “é o adjunto da ministra chamar mentecaptos aos sindicalistas ou o secretário de Estado da Educação abrir o vidro do carro e ameaçar uma professora em protesto, em Viseu”."
"Correio da Manhã" de 18 de Outubro de 2006

*Vermelhices (Comentários Políticos) XLV*



D
o ministério do arauto do fim da crise, Manuel Pinho, surge mais um motivo para o regozijo geral: Afinal o aumento da electricidade será de "apenas" 6%, e não 16% como propunham os mauzões da "Entidade Reguladora do Sector".

N
em o São Jorge foi tão bravo contra o dragão quanto o nosso Pinho contra a "Entidade Reguladora do Sector"! E ainda por cima safou-nos de uma desgraça que é da inteira responsabilidade do Zé Povo. É que antes o fiel escudeiro do bravo Pinho esclareceu-nos que o aumento de 16% se devia ao facto dos consumidores se terem portado muito mal e não terem pago o que deviam. Sim! Por causa dessa mania de reclamarmos contra o aumento brutal do custo de vida, os simpáticos governantes não deixaram aumentar mais a taxa da electricidade e agora toma! é o que se vê: têm uma trabalheira enorme para consertar os nossos disparates.

N
esta história só não sei onde entram os lucros da EDP,
a perda de poder de compra dos portugueses, a responsabilidade do governo no combate aos monopólios e a privatização da EDP (parece que ainda estou a ouvir aquela história de que uma EDP privada era mais próxima dos cidadãos do que um a EDP pública, aquela conversa de que podiamos ser accionistas e assim comandar os destinos da empresa, que sendo).
E quem é a "Entidade Reguladora do Sector"?
... Ah! E cá em casa sempre se pagaram as contas de electricidade (nem sempre a tempo e horas, é certo). Que remédio! A alternativa é o regresso à romântica luz de vela, o fim dos produtos frescos, a roupa lavada à mão, o fim da informática (e viva o choque tecnológico! - alguém devia dizer ao Sócrates que não há choque sem electricidade -), da TV ( -alguém devia também dizer que sem TV não há propaganda de Governo que resista -) e do rádio.


PCP CONTRA AUMENTOS NA TARIFA ELÉCTRICA!


A EDP teve um lucro recorde em 2005 de 1071 milhões de Euros! E no primeiro
semestre de 2006, um lucro de 580 milhões de Euros, um acréscimo de 17% sobre o lucro "histórico" de 2005! Mas o Governo já anunciou a intenção de impôr um pesado aumento para o consumo doméstico em 2007, para "pagar o aumento dos custos de produção". Ou seja, 5,3 milhões de pequenos consumidores vão pagar mais para manter os dividendos de uma meia dúzia de grandes accionistas privados. Os portugueses estão a ser enganados! A proposta em cima da mesa, lançada pela "Entidade Reguladora do Sector" é de 15,75% de aumento para os consumidores domésticos, e só para estes. O Governo, ao mesmo tempo que afirma que "os portugueses vão ter que fazer mais este sacrificio", procura limpar-se do ónus desta decisão naturalmente "impopular"! Ou seja, quer continuar a servir as classes dominantes, mas manter iludida a maioria da população, que está a ser expropriada pela sua política, mas cujos votos lhe fazem falta cada quatro anos! É preciso deixar claro que qualquer aumento acima da taxa de inflação é mais um roubo descarado, cujo único objectivo é acelerar o crescimento dos lucros de uns quantos à custa dos trabalhadores e das suas familías! É preciso romper com esta política! .
É preciso lutar!

A Direcção da Organização Regional de Lisboa do PCP

terça-feira, outubro 17, 2006

*Vermelhices (Comentários Políticos) XLIV*

Hoje passei todo o dia escutar no meu cérebro, para além da canção do Outono que tive de ensinar aos putos ("A gotinha cai na uva, coitadinho do baguinho, quem lhe empresta o guarda-chuva"), a citação preferida de Marx: "Sou homen, e nada do que é humano me é estranho".

Acordei, uma vez mais angustiada para a consciência da triste realidade, e zás; aparece a frase.
Era adequada, sim. As sensações de falhanço, de impotência, de incompetência, de apatia, de inveja, de vergonha, etc. são humanas e não me são estranhas.

Depois das aulas ouvi de novo a frase enquanto me assaltavam dúvidas sobre se tinha sido muito banana ou demasiado severa, se tinha perfil para aquilo, se devia levar as aulas demasiado a sério quando o ministério goza com o meu trabalho... Dúvidas e incertezas também são comuns nos humanos.

Quando acendo a tv para ver o telejornal e aparece-me a figurinha do ministro das Finanças a apresentar o Orçamento de Estado, afirmando que se vão popupar 5,1% em despesas de pessoal, que aumentam as receitas na saúde (graças ao aumento das taxas), mas que os utentes vão ficar melhor servidos, que o ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior é o único que tem direito a investimento,... Pimba! A frase! Raiva e revolta. Principalmente por sentir que nos fazem de parvos! melhores servidos na saúde?! com redução de pessoal, aumento das taxas, entrega da gestão a privados? devem estar a brincar! Investimento no MCTES? As universidades a meterem dó, os estudantes a pagarem propinas exorbitantes, os professores das universidades a serem dispensados: pensam que somos todos ignorantes? Combate ao déficit? e o equilíbrio da balança comercial? e o investimento na produção e na melhoria do poder de compra?

Sou uma trabalhadora precária, não posso adoecer, não posso tratar de assuntos inadiáveis porque não tenho direito a baixas, pagam-me à hora para ser professora, não tenho subsídio de férias ou de natal, tenho de comprar o material de trabalho, tenho contas para pagar. Faço parte da redução em despesas de pessoal. Perdi sonhos. Até a mais modesta das ambições vai dando lugar a uma negra luta pela sobrevivência. Aflijo-me por mim e pelo cenário cada vez mais triste que vejo em volta. Temo que o irremediável chegue a todos os cantos da minha vida e do meu país.

Que espécie de seres são estes governantes tão cegos ao mundo que deviam governar? Não sentem vergonha ao levantar-se da cama? não se sentem incompetentes com a merda que fazem? não duvidam do seu papel? não conhecem a humildade? Desespero, revolta, humilhação, tenho a certeza que não.

Um dia, espero, terão medo.

Eu, confesso, tenho-lhes ódio. É um sentimento que infelizmento vou também conhecendo cada vez melhor. Sou humana, e nada do que é humano me é estranho.

sexta-feira, outubro 13, 2006

*Vermelhices (Comentários Políticos) XLIII*

«Ministro da Economia anuncia fim da crise em Portugal
13.10.2006 - 13h28 Lusa

O ministro da Economia, Manuel Pinho, anunciou hoje o fim da crise em Portugal e disse que a questão agora é a de saber "quanto é que a economia portuguesa vai crescer".»

Uau...
Assim... tão de repente! Uau...
... Mas...
Acabou para quem?

quinta-feira, outubro 12, 2006

*Vermelhices (Comentários Políticos) XLII*

80 a 100 mil pessoas!
Há alguns anos atrás, ainda Sócrates era ministro do ambiente (do governo de Guterres), a população de um lugar (não me lembro qual)realizou um protesto contra a construção de uma inceneradora, aproveitando a passagem do ministro por ali para fazer ouvir a sua voz. Na altura a tv mostrou Sócrates, dentro de um autocarro onde viajava com a comitiva, a desdenhar a manifestação e a tecer comentários jocosos sobre o reduzido número de manifestantes.
Hoje, o pomposo Sócrates engoliu em seco e não disse uma única palavra quando os jornalistas lhe pediram para se referir à manifestação.
Momentos antes dissera que cumprirá as suas promessas. Mente! Prometeu redução dos salários e não cumpriu. Prometeu redução do desemprego e não cumpriu. Diz que serve os interesses do povo português e mente. Trata o povo e os trabalhadores com desprezo e azedume.
O rei D. Carlos também tratava o povo assim e acabou morto... por um professor.

quinta-feira, outubro 05, 2006

*Vermelhices (Comentários Políticos) XLI*

Soube hoje que a ministra da Educação, Maria de Lurdes Rodrigues, nos seus tempos de estudante universitária, no ISCTE, era anarquista e aluna do professor João Arsénio Nunes, que lecciona a cadeira de História do Movimento Operário e do Socialismo. Ora a nossa irreverente Marilu ficou furiosa por o professor lhe ter atribuído a nota de 13. Achava ela que era um Bakunine de saias e pontificava em conhecimento do conteúdo da matéria. Depois de ter ouvido esta história (de fonte seguríssima) reflecti sobre o assunto e achei que o professor beneficiara a criatura com semelhante classificação. A Marilu revela uma completa ignorância no que diz respeito à história dos movimentos sociais e, muito particularmente, do sindicalismo. Se soubesse teria muito mais cuidado e respeito para com os professores. É que os brandos costumes podem enganar.
Mais tarde, ouvi daquela boca (será que a nossa ex-anarca alguma vez se riu na vida?) a recomendação aos professores para que lessem o Estatuto (entenda-se Estatuto da Carreira Docente). Suponho que o terá dito a propósito de uma declaração de algum docente um pouco menos informado. ou então porque é demagoga e não sabia o que dizer.
Ocorreu-me então que a senhora não deve ter lido nem a Lei de Bases do Sistema Educativo nem a Constituição da República Portuguesa; textos que foram escritos no tempo em que a menina brincou às bombinhas e que foram construídos por aqueles que efectivamente fizeram a história dos movimentos sociais. Aqueles que lhe podem dar valiosíssimas lições e facultar-lhe, não fosse ela tão pretenciosa e arrogante, bem mais do que um 13 desmerecido.


O professor da História do Socialismo e do Movimento Operário caminhava na manifestação. A Lurdinhas continua a não ouvir o professor.

terça-feira, outubro 03, 2006

Dúvida

Será que o espírito de natal chegou com meses de antecedência ou o comércio quer fazer a virgem parir o menino mais cedo do que é costume para contornar a crise por via do consumo das festividades?

.... Na Amadora começaram a por luzes em feitio de flocos de neve em meados de Setembro...

... Qualquer dia, acabam de comemorar a ressureição com os ovinhos e os coelhos (um dia alguém me há-de explicar a relação dos coelhos com os ovos e a paixão de Cristo) e já andam pais natais pendurados nas janelas e meninos deitados nas palhinhas...