quarta-feira, junho 27, 2007

Viagem a Euskal Herria 1

O comboio I

Mal entrámos na carruagem verificámos que aquela viagem não seria apenas no espaço, mas também no tempo. A composição dividida em cabines com oito lugares cada, bancos muito direitos e a falta de espaço para esticar as pernas já era antiga quando nela fiz o mesmo percurso há 16 anos atrás. Parece-me uma espécie de requinte de malvadez por parte da CP. Com uma serra e uns bancos do intercidades soldados ao chão e viajaríamos todos melhor. Mas não. Entrámos para o exíguo espaço onde já se encontrava uma família de casal, avó e neto. A avó, devo dizer, ocupava quase dois lugares e, até ao Entroncamento, não parou de nos fitar com um ar hipnotizador (tenho até a impressão que vi duas espirais a girar dentro dos seus olhos).

Minutos depois de nos sentarmos entra mais uma mãe e uma criança.

Estávamos bem arranjadas. Mas enfim, tínhamo-nos preparado mentalmente para a guerra e esta era apenas uma contingência.

No Entroncamento tivemos a grande alegria de nos livrar da numerosa família. Mas, duas estações mais à frente, recebemos a visita de um casal do Quebéc carregado de mochilas.

Resolvemo-nos dedicar à bandeira portuguesa que nos tinha sido solicitada e que, não sendo ano de campeonato europeu ou mundial de futebol, não se encontrou com facilidade. Para além do mais não queríamos bandeiras com pagodes chineses em vez de castelos. Fiz então um belo desenho com base no meu Bilhete de Identidade e no Cartão de Eleitor da M. (ver foto) Demo-nos conta da nossa profunda ignorância e se não fosse passarmos na estação de Fátima teríamos ficado sem saber qual era a cor de fundo do rebordo do escudo.

Fui entretanto à casa-de-banho e antes de voltar resolvi verificar se a carruagem bar também fazia parte do comboio-museu ou se já apresentava sinais de aproximação ao século XXI. Constatei que não, e, perdida nestes pensamentos, o homem do bar pergunta-me o que ia tomar. Disse-lhe que naquele momento nada, que só tinha ido ver com era o bar e perguntei-lhe se mais tarde nos poderíamos sentar na parte do restaurante. Ele disse que sim, se não houvesse muita gente para jantar, obviamente. Trocámos mais umas palavras e ele insistiu para que voltasse.

Depois o B. telefonou-nos a avisar que tinha sido encontrado um carro carregado de explosivos, provavelmente da ETA, na fronteira de Espanha com Portugal, em Ayamonte. Pronto! Estamos f*****s! Pensei eu. Com o azar que tenho ainda nos vão chatear.

Um pouco mais tarde o casal do Quebéc iniciou um ritual estranho de abrir embalagens de frutos secos e os despejar para um saco. Misturaram-nos. Parecia ser um belo cocktail. Só faltavam as bebidas. Sussurrei isto à M. e começou a crescer-nos água na boca (não tanto pelos frutos secos como pela ideia de uma bebida fresca). Levantámo-nos e fomos então visitar o amigo do bar. Aqui começou a nossa viagem ao mundo da vida dos trabalhadores dos comboios.

2 comentários:

André Levy disse...

Ainda não sairam de Portugal, nem molharam a boca... Conta lá como foi.

Anónimo disse...

Intimo-te a contar tudo rapidamente. E diz-me se deste o meu abraço ao Vasco.