eu, o meu pai, Diógenes, o sono e o sol
Hoje recebi uma mensagem deliciosa, daquelas que são pimbas e cheias de clichés mas que às vezes fazem falta para nos fazer rir. A mensagem contava a história da cigarra e da formiga mas tinha um final inesperado: a cigarra de tanto cantar foi "descoberta" por um grande produtor que celebrou com ela um contrato milionário e levaria para Paris. Moral da história: trabalhar sem parar só faz bem nas fábulas do La Fontaine e aos bolsos dos patrões.
Depois, e mais uma vez, fui bombardeada com aquele anúncio horrível do BES apologista da ideia contrária à mensagem que recebera, "O Cristiano Ronaldo deitado não rende", que é como quem diz: "não durmam, não descansem, trabalhem, trabalhem, trabalhem, para renderem, renderem, renderem, e depois morrerem de esgotamento. "
A seguir fui visitar o meu pai e, pela 74ª vez, ouvi-o contar a sua história favorita. Tendo em conta que anualmente, em média (nos últimos 11 anos), estou com ele duas vezes, qualquer um rapidamente deduz que ele conta a dita sempre que me vê (para além das vezes em que ma contou na minha infância e adolescência). Mas ele não a conta de qualquer maneira, assim só porque se lembra. A história vem sempre no seguimento de uma qualquer pergunta que lhe faço sobre a sua vida*. Ele responde e, como se constatasse o ridículo que é levar a vida demasiado a sério, acaba por contar a história com brilho de inveja nos olhos. E hoje, quando o ouvi falar notei que estou a ficar com uma perspectiva das coisas muito parecida com a dele. Como um dia li algures; somos cada vez mais nós próprios e cada vez mais iguais aos nossos pais.
A história é a seguinte: Diógenes, o filósofo de rua, como o foi o Paulino da Figueira-da- Foz (herói de infância do meu pai) na linha do Albino Forjaz de Sampaio (outro herói do meu pai, este pelo seu "vai para a puta de que te pariu - Albino Forjaz de Sampaio" como resposta a "o sono é a antecâmera da morte - Shakespere") estava deitado no seu barril, apanhando um delicioso e cálido sol quando Alexandre, o Grande, o visitou e colocando-se entre o filósofo e o sol perguntou o que poderia fazer por ele, ao que a resposta do homem foi: "Não me tires o que não me podes dar!"
Segundo reza a lenda, Alexandre terá dito depois: "Se eu não fosse Alexandre, queria ser Diógenes." ... Também o meu pai... ... Também eu...
... Parece que o Sócrates morreu no dia em que o Diógenes nasceu
*filha: E como vai a fábrica da coca-cola?
pai: preferia trabalhar numa de cerveja, a coca-cola não me sabe nada bem.
na imagem "o reencontro de Diógenes e Alexandre", Pierre Pujet, 1680, Museu do Louvre
1 comentário:
Diógenes é também o nome de um grande comunista brasileiro que esteve exilado em Portugal. Diógenes Arruda de seu nome.
pode-se saber mais em wwww.vermelho.org.br
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