terça-feira, setembro 20, 2005

ARTE DE TRANSFORMAR XXXIV

A um ti que eu inventei

Pensar em ti é coisa delicada.

É um diluir de tinta espessa e farta

e o passá-lo em finíssima aguada

com um pincel de marta.

Um pesar de grãos de nada em mínima balança,

um armar de arames cauteloso e atento,

um proteger a chama contra o vento,

pentear cabelinhos de criança.

Um desembaraçar de linhas de costura,

um correr sobre lã que ninguém saiba e oiça,

um planar de gaivota como um lábio a sorrir.

Penso em ti com tanta ternura

como se fosses vidro ou película de loiça

que apenas com o pensar te pudesses partir.

António Gedeão

Sem comentários: