terça-feira, dezembro 27, 2005

Onde pára o riso?

"Eu não quero mais mentir /Usar espinhos que só trazem dor /Eu não enxergo mais o inferno/Que me atraiu /Dos cegos do castelo me despeço e vou /A pé até encontrar /Um caminho /O lugar /Pro que eu sou /
Eu não quero mais dormir /De olhos abertos me esquenta o sol /Eu não espero que um revólver venha explodir /Na minha testa se anunciou
A pé a fé devagar /Foge o destino do azar que restou..." Titãs (Os cegos do castelo)


Molhar os pés em água fria é bom.

Ler um bom livro também.

Ovos moles.

Ouvir música, dançar.

“São as pequenas coisas que se ama que nos fazem felizes”

“Aproveita”

“Aproveita”

“Aproveita cada segundo da tua vida”

Disseram-me.

Eu tentei.

Mas a solidão ainda assim abate-se sobre mim.

O que é que eu posso aproveitar se nada puder partilhar.

E no entanto,

A minha vida não é apenas minha.

É cada vez menos minha.


Sentimo-nos sós quando nos cortam o cordão umbilical,

Quando deixamos de mamar,

Quando largamos as mãos,

Quando acabamos de fazer amor e não nos olham de frente,

Quando deixamos de ser ouvidos.

Eu abdicaria dos meus queridos defeitos para poder reaver o riso, perdido algures num tempo antes de mim, de quem ri por complemento a outro riso. O riso do calor.

E no entanto, tropeço e enleio-me numa teia de insegurança, obstinações, preconceitos, outras prioridades, recalcamentos, apatias e dor.

terça-feira, dezembro 20, 2005

Poema muito prático sobre um ataque de preguiça

A Piruette quer assar junto ao aquecedor.
Eu tenho que limpar a casa.
Não tenho pachorra.
A minha mãe quer decoração de natal.
Eu estou tão pouco natalícia.
Era giro viver como os hobbits.
Mas os hobbits têm que limpar a casa.
Ainda se pudesse ouvir a Yma Sumac aos altos berros...
Mas são 23 horas.
Melhores dias virão.
Mas terei sempre que limpar a casa.
Antes do mais queria mesmo uma casa.
Mesmo que não fosse como a dos hobbits
(é mais fácil ter uma casa como a dos hobbits do que como a dos elfos.
Os elfos são burgueses com mulheres a dias).

sexta-feira, dezembro 16, 2005

Permuta

Há por aí alguém interessado em trocar a alma?

quarta-feira, dezembro 14, 2005

Amadora no seu melhor!

Aqui está a grande explicação para a rica e esclarecedora frase de campanha da candidatura de Francisco Louçã. "Olhos nos olhos" (nas beiras diz-se "Jolhos nos Jolhos") para o cidadão desatento parece demagogia barata e populista ("o que raio é que este gajo quer com isto? dizer que só pratica a posição do missionário? mas ele até é o tipo dos direitos dos gays!"). Para os adeptos significa frontalidade. Mas frontalidade por si só não é garante de defesa da democracia e da Constituição. Há por aí muitos capitalistas sem vergonha (cada vez mais) que assumem com frontalidade que nos andam a lixar. Mas aí está: numa rua do grande concelho da Amadora encontrei este mupi e percebi tudo. Louçã, num rasgo de genialidade, descobriu que os portugueses andam com os olhos por todo o lado menos no sítio onde deviam, isto é; nos próprios olhos. Isto diz muito sobre as tristes opções eleitorais que têm sido feitas. Pois claro. Quando os olhos não estão nos olhos não podem ver grande coisa. Assim, o candidato entende que a malta deva ir em massa, e com urgência, ao oftalmologista. Se Louçã for eleito presidente seremos a república com melhor acuidade visual do mundo. O que será um problema para o BE, que anda por aí a enganar muita e boa gente.

terça-feira, dezembro 13, 2005

sonhos 1

Há alguns dias atrás sonhei que vivia numa comuna. Depois, ao pensar no assunto, dei-me conta que nunca sonhei (de olhos fechados e a dormir) com aquilo que realmente quero. Estranho. Nunca sonhei estar com os amores da minha vida. Nunca sonhei estar com um emprego e uma vida estável. Nunca sonhei com a revolução.

Este foi, talvez, um dos sonhos que mais se aproximou da vida como eu a quero.

sexta-feira, dezembro 02, 2005

quinta-feira, dezembro 01, 2005

*Vermelhices (Comentários Políticos) XXXV*

Assinalamos hoje 350 anos sobre a restauração da independência.

Ironicamente somos hoje um país mais dependente de Espanha: mais de 70% do nosso consumo é importado do estado espanhol.

Ironicamente também, vivemos um período de pré-campanha eleitoral para a presidência da República em que os candidatos da direita (e incluo aqui os militantes do PS), que espezinharam a Constituição da República Portuguesa, que foram responsáveis pela destruição do aparelho produtivo, pelo atraso e dependência económica do nosso país, dizem agora zelar pela soberania e independência nacionais.