terça-feira, dezembro 27, 2005

Onde pára o riso?

"Eu não quero mais mentir /Usar espinhos que só trazem dor /Eu não enxergo mais o inferno/Que me atraiu /Dos cegos do castelo me despeço e vou /A pé até encontrar /Um caminho /O lugar /Pro que eu sou /
Eu não quero mais dormir /De olhos abertos me esquenta o sol /Eu não espero que um revólver venha explodir /Na minha testa se anunciou
A pé a fé devagar /Foge o destino do azar que restou..." Titãs (Os cegos do castelo)


Molhar os pés em água fria é bom.

Ler um bom livro também.

Ovos moles.

Ouvir música, dançar.

“São as pequenas coisas que se ama que nos fazem felizes”

“Aproveita”

“Aproveita”

“Aproveita cada segundo da tua vida”

Disseram-me.

Eu tentei.

Mas a solidão ainda assim abate-se sobre mim.

O que é que eu posso aproveitar se nada puder partilhar.

E no entanto,

A minha vida não é apenas minha.

É cada vez menos minha.


Sentimo-nos sós quando nos cortam o cordão umbilical,

Quando deixamos de mamar,

Quando largamos as mãos,

Quando acabamos de fazer amor e não nos olham de frente,

Quando deixamos de ser ouvidos.

Eu abdicaria dos meus queridos defeitos para poder reaver o riso, perdido algures num tempo antes de mim, de quem ri por complemento a outro riso. O riso do calor.

E no entanto, tropeço e enleio-me numa teia de insegurança, obstinações, preconceitos, outras prioridades, recalcamentos, apatias e dor.

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