A GREVE
A melhor explicação sobre o significado de greve:
“Eu vou te contar: no princípio, em Cuba, estávamos sem defesa e sem resistência; este julgava-se branco, aquele era negro e havia bastantes desentendimentos entre nós: estávamos espalhados como areia e os patrões andavam sobre essa areia. Mas logo que reconhecemos que éramos todos iguais, logo que nos juntámos para la huelga…
- O que é que é essa palavra: la huelga?
- Vocês dizem antes a greve.
- Eu também não sei o que isso quer dizer.
Manuel mostrou-lhe a sua mão aberta:
- Olha para este dedo como é magro, e este aqui muito fraco, e este outro não tem melhor aparência, e este infeliz, também não é muito forte, e este último sozinho e entregue a si próprio.
Ele cerrou o punho:
- E agora, será suficientemente forte, suficientemente maciço, suficientemente unido? Diremos que sim, não é verdade? Pois bem a greve, é isto: um NÃO de mil vozes que fazem apenas uma e que se abate sobre a mesa do patrão com o peso de um rochedo.
Não, digo-te: não, e é não. Nada de trabalho, nada de zafra, nem uma erva cortada se tu não nos pagas o preço justo da coragem e da dor dos nossos braços.
E o patrão, o que é que ele pode fazer, o patrão? Chamar a polícia. É isso. Porque esses dois são cúmplices como a pele e a camisa. E carreguem sobre estes rufias. Não somos rufias, somos trabalhadores, proletários, é assim que se diz, e ficamos em filas teimosos debaixo da tempestade; há quem tombe, mas o resto aguenta-se, apesar da fome, da polícia, da prisão, e entretanto a cana espera e apodrece no pé, a Central espera com os dentes dos seus moinhos desocupados, o patrão espera com os seus cálculos e tudo o que ele tinha descontado para encher os seus bolsos e finalmente, ele é obrigado a negociar: então o quê, diz ele, não podemos conversar?
Certo, podemos conversar. Ganhámos a batalha. E porquê? Porque estamos soldados numa única linha como os ombros das montanhas e quando a vontade do homem se torna grande e dura como as montanhas não há força na terra ou no inferno para a abanar e destruir.”
Tradução livre de “Gouverneurs de lá rosée’ Jacques Roumain. Les éditeurs français réunis, 1946
Existe também uma edição portuguesa sob o título “Os governadores do orvalho”, publicada pela Caminho, na colecção “Uma terra sem amos”, em 1979, cuja tradução é de José Saramago.
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