ARTE DE TRANSFORMAR XXX - Rembrandt II
“Betsabé está sentada numa almofada, o rosto inclinado para o chão, a carta do rei David na mão direita [centro da composição]. Ele quer vê-la o mais depressa possível, que vá ter com ele, é uma ordem. Talvez o rei David lhe diga também que a deseja desde que a viu tão bela no banho. Ela leu a carta fatal, o seu olhar está noutro lado. À esquerda, encostada à moldura, curvada sobre os seus pés, a velha criada purifica-a antes do sacrifício. Com os olhos perdidos no futuro, Betsabé não olha para nada.
(…)
O sacrifício de Betsabé ultrapassá-la-á, naquele que ela dará à luz. Digna, a serva judia, purifica-a. Encontraste-a no Hougracht, mesmo em frente da sinagoga. Inclinada para os meus pés já não sorri, é a idade e as costas. Também eu, sem me mexer na pose com o meu ventre pesado, tenho uma dor que me trespassa sob o ombro esquerdo. Viste na minha mão a carta do rei David, linhas escritas sobre um papel branco, e acreditaste no acaso.”
In Eu, a puta de Rembrandt
Sylvie Matton
“(…) Há algum tempo que ele vive com Hendrickje Stoffels, e essa mulher maravilhosa (tirando os de Titus, só os retratos de Hendrickje estão repletos da própria ternura e do reconhecimento do velho urso sublime) deve satisfazer simultaneamente a sua sensualidade e a sua necessidade de ternura.”
Jean Genet
Betsabé com a carta do rei David
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