sexta-feira, dezembro 29, 2006



A vida e a dignidade

A demagogia e a hipocrisia dos defensores do Não à despenalização da IVG (Interrupção Voluntária da Gravidez) repugnam-me. É raro ouvir um adepto do Não assumir que é favor da repressão das mulheres que praticaram algum aborto… e, no entanto, é isto que está em causa.

Infelizmente esta tem sido sempre uma discussão levada para o terreno das convicções religiosas e não no das opções políticas. Uma discussão em que os partidários do Não esquecem que hoje é unanimemente reconhecido que o Direito é uma convenção normativa das pessoas e não um mandato divino.

Entenda-se a este propósito que “pessoa” é um vocábulo que vem do latim persona, que significa máscara, figura ou papel representado, querendo assim dizer que se trata de uma construção cultural. Pessoas são então os seres que colectivamente se reconhecem como tal.

Direitos, por outro lado, são regras de interacção estabelecidas entre as pessoas em prol da harmonia e da preservação da integridade de todos. São portanto estabelecidos pelas pessoas e para as pessoas. Não são inatos, nem podem ser atribuídos a não pessoas. É uma falácia falar-se em direitos dos animais, ou das pedras, ou das plantas. O que é correcto, isso sim, é a razão dos homens levar ao reconhecimento de que o equilíbrio do planeta (incluindo o económico e social) é um benefício comum e que, portanto, a actuação das pessoas deve garantir este equilíbrio.

É portanto pelo interesse comum e por afecto que se defende a vida. E quem genuinamente a defende sabe que o valor da vida é inalienável da dignidade e da integridade. Quem genuinamente a defende fá-lo por humanismo, por motivos tanto racionais como emocionais. Fá-lo por auto-preservação e empatia.

Empatia que, por definição, nunca pode ser apenas com a vida biológica, mas tão-somente com os sentimentos inerentes a essa vida. Daí que, o argumento da defesa da vida tout court não passa de uma rotunda e gigantesca hipocrisia.

Como se pode ter empatia com um embrião e ao mesmo tempo desprezar o desejo da mulher? Como se pode empreender uma cruzada pelo sucesso biológico de um óvulo fecundado e apontar a espada a adolescentes que se vêem na situação dramática de terem engravidado sem ainda estarem, elas próprias, completamente formadas? Como se pode afirmar que se defende a vida e ao mesmo tempo ignorar as condições de vida das mulheres que não têm como alimentar mais um entre muitos filhos? Como se pode tornar absoluto o valor da vida e mandar para a prisão as mulheres que com sofrimento declararam a elas próprias e com muita dor que, pelas mais variadas e dolorosas razões, não podiam ser mães? Como se pode berrar pela vida humana e alimentar rancor contra aquelas que a geram e em cujas mãos fica o destino dessa outra cuja dor é infinitamente menor?

Não se pode.

E a verdade desta resposta dá-nos a realidade e a crueza dos números.

Há pouco mais de dez anos atrás, ouvimos da boca dos que cantaram vitória, a triste vitória de se manter na clandestinidade (com todas as consequências sanitárias e psicológicas que isso acarreta), promessas infindáveis de uma luta incansável pela melhoria das condições sociais e económicas do país, declarações comoventes de compreensão e ajuda às mulheres que não reunissem condições para levar avante uma gravidez indesejada.

Hoje, encerram maternidades e escolas por todo o país, o desemprego aumentou, a legislação laboral tornou-se numa arma de escravização dos trabalhadores, o pacote laboral deu carta branca a patrões para despedirem trabalhadoras grávidas, os pais trabalham mais horas e as escolas tornaram-se em depósitos de crianças, depósitos de futura mão-de-obra barata e descartável (assim como a dos seus pais), a violência e a delinquência juvenil aumentaram, o abandono escolar aumentou também, reduziu o poder compra, diminuíram as condições de acesso aos cuidados de saúde. Tudo quanto diz respeito a garantias da qualidade de vida é visto apenas na óptica das despesas: protecção social é despesismo, gratuitidade do acesso à saúde é despesismo, educação é despesismo, igualdade no acesso à justiça é despesismo; direito à habitação é despesismo, etc. Até já se contabilizam financeiramente os gastos que os serviços públicos de saúde venham a ter para assegurar as IVG!

Em suma; a vida humana, neste país, perdeu valor.

Ter-se-ão feito, desde a “vitória” do Não, cerca de 200 mil abortos clandestinos, realizados, na maior parte dos casos, em casas particulares, sem auxílio de um médico, sem os cuidados essenciais e com consequências negativas para a saúde e extremamente dispendiosos.

E os defensores do Não? Vimo-los na linha da frente a defender a melhoria das condições de vida dos portugueses e na linha da frente contra as políticas desumanas dos governos que então se sucederam? Não.

O que vimos foi, entre outros atentados aos portugueses, Bagão Félix, defensor do Não, ser o pai do desumano código laboral, como apoio de outros fervorosos católicos defensores do Não: João Salgueiro, Jardim Gonçalves e Teixeira Duarte

É certo que alguns, como a JOC, lá vão dizendo que não estão satisfeitos. Mas e a grande batalha, essa sim, pela vida? Pela vida de todos os dias? Pela vida escolhida? Pela vida livre? Pela vida que merece ser vivida? Pela vida que ser quer para nós e para os outros? A grande batalha que se trava sem demagogia e correndo riscos?

Essa batalha quem a trava são os que agora são acusados de ser contra a vida.

Entretanto, sempre que há um julgamento de mulheres que abortaram calam-se os “paladinos” da vida e, praticamente, não se conhecem casos de denúncia. Porquê? Porque na hora da verdade, com os seus casos pessoais ou de gente próxima, sabem que a vida humana não se pode dissociar da sua dignidade.

Se realmente de tratasse de um assassinato não denunciariam?

Contudo, noutros momentos, arvoram-se em grandes soldados do embrião porque são incapazes de nutrir pelas pessoas desconhecidas o mais pequeno sinal de compreensão, não têm empatia, não têm coragem, são desumanos.

quarta-feira, dezembro 20, 2006

Por Pascual Serrano, para o Rebelión.

"A revista americana Time elegeu como ''personagem do ano'' todos os usuários da Internet, ao descobrir que os votos dos leitores haviam selecionado o presidente venezuelano Hugo Chávez."

ver o artigo completo no vermelho online

domingo, dezembro 10, 2006


O blog professor comunista foi actualizado.
Para além de se encontrarem no corpo do blog os dois últimos números do Pela Educação, ainda podem consultar os pdf dos números anteriores.

quinta-feira, dezembro 07, 2006

Há dias li um artigo no DN Online com o seguinte título: "Salários recebem a menor parcela do PIB de sempre". Se isto não é a prova de que os comunistas têm razão e um aviso à navegação...
A este propósito fui ver os relatórios do desenvolvimento humano e encontrei esta animação sobre a evolução até 2005 (e projecções). Pareceu-me interessante estabelecer uma comparação entre o desenvolvimento humano (ou a falta dele) e o avanço do capitalismo.
Segundo os gráficos apresentados, as assimetrias no rendimento per capita mantêm-se elevadas mas esbateram-se ligeiramente ao longo dos anos. O que é mais curioso é que o número de pessoas com rendimento abaixo de 1 dólar por dia diminuiu e, assim, as projecções apontadas são optimistas e algo contraditórias com o estudo apresentado na notícia.
Pergunto a quem entenda de macro-economia: será que a inflação não é tida em conta no PNUD? isto é; será que 1 dólar hoje vale o mesmo que há 25 anos atrás?

*Vermelhices (Comentários Políticos) XLVII*

Zyuganov, Secretário Geral do Comité Central do Partido Comunista da Federação Russa, disse, na sua intervenção no comício de encerramento do Encontro Internacional de Partidos Comunistas e Operários, realizado no passado dia 12 de Novembro, qualquer coisa como isto: "... os capitalistas que tomaram temporariamente o poder..." (referindo-se, naturalmente, ao seu país).
Quando vi este video, associei-o a estas palavras.
Uma tão grande luta só pode ter derrotas temporárias.
... Será isto controverso?

ARTE DE TRANSFORMAR XLVI

Estranho mundo este onde quem escreve uma canção como esta se suicida pouco tempo depois...

Gracias a la vida


Gracias a la vida, que me ha dado tanto
Me dió dos luceros que cuando los abro
Perfecto distingo lo negro del blanco
Y en alto cielo su fondo estrellado
Y en las multitudes el hombre que yo amo
Gracias a la vida, que me ha dado tanto
Me ha dado el oído, que en todo su ancho
Traba noche y dia grillos y canarios
Martirios, turbinas, ladridos, chubascos
Y la voz tan tierna de mi bien amado
Gracias a la vida, que me ha dado tanto
Me ha dado el sonido y el abecedario
Con él las palabras que pienso y declaro
Madre, amigo, hermano y luz alumbrando
La ruta del alma del que estoy amando
Gracias a la vida,que me ha dado tanto
Me ha dado la marcha de mis pies cansados
Con ellos anduve ciudades y charcos
Playas y desiertos, montañas y llanos
Y la casa tuya, tu calle y tu patio
Gracias a la vida, que me ha dado tanto
Me dió el corazón que agita su marco
Cuando miro el fruto del cerebro humano
Cuando miro el bueno tan lejos del malo
Cuando miro el fondo de tus ojos claros
Gracias a la vida, que me ha dado tanto
Me ha dado la risa y me ha dado el llanto
Así yo distingo dicha de quebranto
Los dos materiales que forman mi canto
Y el canto de ustedes que es el mismo canto
Y el canto de todos que es mi propio canto
Gracias a la vida

terça-feira, novembro 28, 2006

ARTE DE TRANSFORMAR XLV



A CUBA


Si yo a Cuba le cantara,
le cantara una cancion
tendría que ser un son
un son revolucionario
pie con pie, mano con mano,
corazon a corazon
corazon a corazon,
pie con pie mano con mano
como se le habla a un hermano.
Si me quieres aquí estoy
qué más te puedo ofrecer
sino continuar tu ejemplo
comandante compañero
viva la revolucion
Si quieres conocer a martí y a Fidel,
si quieres conocer los caminos del che
si quieres tomar ros pero sin coca-cola
si quieres trabajar en la caña de azucar
en un barquito se va el vaiven
si quieres conocer a Marti y a fidel.

Victor Jara



Adere!

segunda-feira, novembro 27, 2006

ARTE DE TRANSFORMAR XLIV (de novo... neruda)

Poema 15

Me gustas cuando callas porque estás como ausente,
y me oyes desde lejos y mi voz no te toca.
Parece que los ojos se te hubieran volado
y parece que un beso te cerrara la boca.

Como todas las cosas están llenas de mi alma
emerges de las cosas llenas del alma mía.
Mariposa de sueño, te pareces a mi alma,
y te pareces a la palabra melancolía.

Me gustas cuando callas y estás como distante.
Y estás como quejándote, mariposa en arrullo.
Y me oyes desde lejos, y mi voz no te alcanza:
déjame que me calle con el silencio tuyo.

Déjame que te hable también con tu silencio
claro como una lámpara, simple como un anillo.
Eres como la noche, callada y constelada.
Tu silencio es de estrella, tan lejano y sencillo.

Me gustas cuando callas porque estás como ausente.
Distante y dolorosa como si hubieras muerto.
Una palabra entonces, una sonrisa bastan.
Y estoy alegre, alegre de que no sea cierto.

Pablo Neruda

Não Coisas

Saudades do que nunca vivi.

Incontidas alegrias sem razão.
Preocupações com nada.
Esperança no vazio.
Beijos para o ar.
Abraços sem corpo.
Palavras não ditas.
imagens não vistas.
E o nome que todo o dia chamo ao acordar... de quem é? de quem foi? de quem será?

Vivo um poema do Gedeão?

domingo, novembro 19, 2006

ARTE DE TRANSFORMAR XLIII

A propósito da "impossibilidade de se fazer melhor".
A propósito das justificações para a falta de audácia.
A propósito dos insultos à nossa inteligência.

Para todos aqueles que que se limitam ao medíocre e para os que nada fazem esperando perfeição.

Saúde aos que tornam o impossível uma realidade.
Que se multipliquem os que questionam, os vigilantes, os que não têm preconceitos.

TEMPOS DIFÍCEIS

A árvore explica porque é que não deu frutos.
O poeta explica porque são maus os seus versos.
O general explica porque se perdeu a guerra.

Quadros pintados sobre telas efémeras.
Relatórios de expedição confiados a quem os esquece.
Gestos bonitos, que ninguém aprecia.

Deverá o vaso com mossas servir de vaso de noite?
Deverá a tragicomédia transformar-se em farsa?
Deverá ir para a cozinha a amada já usada?

Louvados os que fogem das casas em ruínas.
Louvados sejam os que trancam a porta ao amigo em desgraça.
Louvados sejam os que esquecem o plano irrealizável.

A casa foi erguida com as pedras disponíveis.
Foi feita a revolução com os revolucionários disponíveis.
Pintado foi o quadro com as cores disponíveis.

Comeu-se do que havia.
Deu-se a quem precisava.
Falou-se com os presentes.
Trabalhou-se com a força, o saber e acoragem de que se dispunha.

O descuido não se perdoa.
Era talvez possível fazer mais...
Pedem-se desculpas.
E daí?

Bertolt Brecht

sexta-feira, novembro 10, 2006

o Webmail nu e cru

Resposta de um pai ou Como a vida em África forja o humor negro

"Querida filha,

Obrigado pelos parabéns. É realmente a 27, mas oficialmente sou mais novo 1 dia, é a 28.
(...) mas sabes, tenho andado numa correria incessante agora com
esta coisa de ser responsável de uma fábrica, que nunca tinha imaginado vir
a ser e que me dá "água, ou melhor gasosa, pela barba"*.
Pelo Huambo quase tudo na mesma, muita "opópia"/"dikelengo" (paleio) e pouco
mais. Neste pouco mais há bué de chineses, mas por enquanto ... . A rastejar
vamos ... como diz o amputado.

Também está a chover buélelé, pelo menos temos água. Já passámos da Estação
da Poeira (em que também houve buélelé desse material) para a Estação da
Lama.

Aquele abraço, extensivo a familiares e amigos."

(*) fábrica de engarrafamento de coca-cola e outros refrigerantes


Inicia no dia 25 de Novembro às 18h (e prolonga-se pelos dias 26 de Novembro
e 1, 2 e 3 de Dezembro, entre as 16 e as 20h), a apresentação dos diários gráficos
de Raquel Pedro.
Mais I Menos (MIM) é uma selecção de cerca de 350 páginas de desenhos, colagens
e outras assemblagens que Raquel Pedro realiza diariamente desde 2004.
Esta instalação resulta de uma disciplina de “fazer” uma folha por dia, um registo
autobiográfico que associa o jogo gráfico a uma escolha precisa de diferentes
materiais. É um período de tempo arquivado que se desdobra no Monte*, de
maneira mais i menos rigorosa.

Bora todos ver a exposição da Raquel!

(*) O Monte § Rua do Monte Olivete, 30A, r/c 1200-280 Lisboa
ao Príncipe Real (perpendicular à Rua da Escola Politécnica)

domingo, outubro 22, 2006

*Vermelhices (Comentários Políticos) XLVI*

Penso que devem andar a fumar coisas estranhas nas reuniões do Conselho de Ministros. Só assim se justifica a perda da completa noção da realidade que se denota nas afirmações dos governantes.
É bem real que o PS tem maioria absoluta e como tal, no quadro da legalidade governa a seu bel-prazer, ou melhor, desgoverna, É bem real que Cavaco Silva é a cereja no bolo do festim da prática das políticas de direita. E também é verdade que o capital e a direita têm a faca e o queijo. No entanto, apesar da tremenda manipulação de mentalidades, ainda não chegámos ao ponto de se admitir com leviandade que os governantes queiram calar a boca ao movimento sindical e a todas as vozes que discordam com as políticas praticadas.
É que a mão que corta o queijo ainda é a nossa. Isto é; as mentalidades podem ser manipuladas mas não podem ser reprimidas. E, embora a ideologia dominante seja a semeada pelo capitalismo, ainda não chegámos - e esperemos que isso não aconteça - ao ponto em que nos deixámos de indignar com os ataques que nos inflingem, ainda não achamos natural o desrespeito pelas nossas vidas.
Assim sendo, as ministeriais declarações que vem sendo feitas, como a já aqui referida do secretário de estado da Indústria, e a proposta da ministra Milu aos sindicatos, só podem ser fruto de um estado ébrio da governação.
Como pode a senhora ministra mandar os sindicatos calar os protestos dos professores em troca de os sindicatos se sentarem à mesa de uma sala na Avª 5 de Outubro? E o que dizer sobre esta notícia do Correio da Manhã?

"A chefe de gabinete do Ministério da Educação enviou uma carta à direcção da Federação Nacional de Professores (Fenprof) a pedir explicações sobre declarações de Mário Nogueira, dirigente do Sindicato de Professores da Região Centro, que usou a palavra “canalha” para descrever uma das propostas de alteração à carreira docente.
O comentário, conta Mário Nogueira ao CM, teve lugar numa reunião de corpos gerentes do sindicato, em Viseu. “Estava-se a falar de uma proposta de revisão do estatuto, segundo a qual uma professora que fosse mãe iria perder tempo de serviço e seria prejudicada na avaliação do desempenho”, diz. Apesar de classificar o momento como “um episódio fugaz e passageiro”, Mário Nogueira admite que criticou “de uma forma dura um Governo que tem medidas que prejudicam uma mulher que pretenda ser mãe”.

“Não chamei canalha à ministra”, garante o sindicalista, que acrescenta: “Se se pesquisar canalha no dicionário, a palavra significa infame. Era uma proposta canalha, uma atitude infame.”

Mário Nogueira não se arrepende da tomada de posição que assumiu. “Aquilo que digo e reitero é que quem propõe medidas que vão contra o direito de uma mulher à maternidade está a apresentar uma proposta infame”, resume.

A carta do Ministério deixou a Fenprof num estado de “revolta e indignação”, conta o sindicalista. “Foi dada uma resposta para pôr no lugar quem teve a iniciativa de a mandar”, refere Mário Nogueira. Mais grave, diz, “é o adjunto da ministra chamar mentecaptos aos sindicalistas ou o secretário de Estado da Educação abrir o vidro do carro e ameaçar uma professora em protesto, em Viseu”."
"Correio da Manhã" de 18 de Outubro de 2006

*Vermelhices (Comentários Políticos) XLV*



D
o ministério do arauto do fim da crise, Manuel Pinho, surge mais um motivo para o regozijo geral: Afinal o aumento da electricidade será de "apenas" 6%, e não 16% como propunham os mauzões da "Entidade Reguladora do Sector".

N
em o São Jorge foi tão bravo contra o dragão quanto o nosso Pinho contra a "Entidade Reguladora do Sector"! E ainda por cima safou-nos de uma desgraça que é da inteira responsabilidade do Zé Povo. É que antes o fiel escudeiro do bravo Pinho esclareceu-nos que o aumento de 16% se devia ao facto dos consumidores se terem portado muito mal e não terem pago o que deviam. Sim! Por causa dessa mania de reclamarmos contra o aumento brutal do custo de vida, os simpáticos governantes não deixaram aumentar mais a taxa da electricidade e agora toma! é o que se vê: têm uma trabalheira enorme para consertar os nossos disparates.

N
esta história só não sei onde entram os lucros da EDP,
a perda de poder de compra dos portugueses, a responsabilidade do governo no combate aos monopólios e a privatização da EDP (parece que ainda estou a ouvir aquela história de que uma EDP privada era mais próxima dos cidadãos do que um a EDP pública, aquela conversa de que podiamos ser accionistas e assim comandar os destinos da empresa, que sendo).
E quem é a "Entidade Reguladora do Sector"?
... Ah! E cá em casa sempre se pagaram as contas de electricidade (nem sempre a tempo e horas, é certo). Que remédio! A alternativa é o regresso à romântica luz de vela, o fim dos produtos frescos, a roupa lavada à mão, o fim da informática (e viva o choque tecnológico! - alguém devia dizer ao Sócrates que não há choque sem electricidade -), da TV ( -alguém devia também dizer que sem TV não há propaganda de Governo que resista -) e do rádio.


PCP CONTRA AUMENTOS NA TARIFA ELÉCTRICA!


A EDP teve um lucro recorde em 2005 de 1071 milhões de Euros! E no primeiro
semestre de 2006, um lucro de 580 milhões de Euros, um acréscimo de 17% sobre o lucro "histórico" de 2005! Mas o Governo já anunciou a intenção de impôr um pesado aumento para o consumo doméstico em 2007, para "pagar o aumento dos custos de produção". Ou seja, 5,3 milhões de pequenos consumidores vão pagar mais para manter os dividendos de uma meia dúzia de grandes accionistas privados. Os portugueses estão a ser enganados! A proposta em cima da mesa, lançada pela "Entidade Reguladora do Sector" é de 15,75% de aumento para os consumidores domésticos, e só para estes. O Governo, ao mesmo tempo que afirma que "os portugueses vão ter que fazer mais este sacrificio", procura limpar-se do ónus desta decisão naturalmente "impopular"! Ou seja, quer continuar a servir as classes dominantes, mas manter iludida a maioria da população, que está a ser expropriada pela sua política, mas cujos votos lhe fazem falta cada quatro anos! É preciso deixar claro que qualquer aumento acima da taxa de inflação é mais um roubo descarado, cujo único objectivo é acelerar o crescimento dos lucros de uns quantos à custa dos trabalhadores e das suas familías! É preciso romper com esta política! .
É preciso lutar!

A Direcção da Organização Regional de Lisboa do PCP

terça-feira, outubro 17, 2006

*Vermelhices (Comentários Políticos) XLIV*

Hoje passei todo o dia escutar no meu cérebro, para além da canção do Outono que tive de ensinar aos putos ("A gotinha cai na uva, coitadinho do baguinho, quem lhe empresta o guarda-chuva"), a citação preferida de Marx: "Sou homen, e nada do que é humano me é estranho".

Acordei, uma vez mais angustiada para a consciência da triste realidade, e zás; aparece a frase.
Era adequada, sim. As sensações de falhanço, de impotência, de incompetência, de apatia, de inveja, de vergonha, etc. são humanas e não me são estranhas.

Depois das aulas ouvi de novo a frase enquanto me assaltavam dúvidas sobre se tinha sido muito banana ou demasiado severa, se tinha perfil para aquilo, se devia levar as aulas demasiado a sério quando o ministério goza com o meu trabalho... Dúvidas e incertezas também são comuns nos humanos.

Quando acendo a tv para ver o telejornal e aparece-me a figurinha do ministro das Finanças a apresentar o Orçamento de Estado, afirmando que se vão popupar 5,1% em despesas de pessoal, que aumentam as receitas na saúde (graças ao aumento das taxas), mas que os utentes vão ficar melhor servidos, que o ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior é o único que tem direito a investimento,... Pimba! A frase! Raiva e revolta. Principalmente por sentir que nos fazem de parvos! melhores servidos na saúde?! com redução de pessoal, aumento das taxas, entrega da gestão a privados? devem estar a brincar! Investimento no MCTES? As universidades a meterem dó, os estudantes a pagarem propinas exorbitantes, os professores das universidades a serem dispensados: pensam que somos todos ignorantes? Combate ao déficit? e o equilíbrio da balança comercial? e o investimento na produção e na melhoria do poder de compra?

Sou uma trabalhadora precária, não posso adoecer, não posso tratar de assuntos inadiáveis porque não tenho direito a baixas, pagam-me à hora para ser professora, não tenho subsídio de férias ou de natal, tenho de comprar o material de trabalho, tenho contas para pagar. Faço parte da redução em despesas de pessoal. Perdi sonhos. Até a mais modesta das ambições vai dando lugar a uma negra luta pela sobrevivência. Aflijo-me por mim e pelo cenário cada vez mais triste que vejo em volta. Temo que o irremediável chegue a todos os cantos da minha vida e do meu país.

Que espécie de seres são estes governantes tão cegos ao mundo que deviam governar? Não sentem vergonha ao levantar-se da cama? não se sentem incompetentes com a merda que fazem? não duvidam do seu papel? não conhecem a humildade? Desespero, revolta, humilhação, tenho a certeza que não.

Um dia, espero, terão medo.

Eu, confesso, tenho-lhes ódio. É um sentimento que infelizmento vou também conhecendo cada vez melhor. Sou humana, e nada do que é humano me é estranho.

sexta-feira, outubro 13, 2006

*Vermelhices (Comentários Políticos) XLIII*

«Ministro da Economia anuncia fim da crise em Portugal
13.10.2006 - 13h28 Lusa

O ministro da Economia, Manuel Pinho, anunciou hoje o fim da crise em Portugal e disse que a questão agora é a de saber "quanto é que a economia portuguesa vai crescer".»

Uau...
Assim... tão de repente! Uau...
... Mas...
Acabou para quem?

quinta-feira, outubro 12, 2006

*Vermelhices (Comentários Políticos) XLII*

80 a 100 mil pessoas!
Há alguns anos atrás, ainda Sócrates era ministro do ambiente (do governo de Guterres), a população de um lugar (não me lembro qual)realizou um protesto contra a construção de uma inceneradora, aproveitando a passagem do ministro por ali para fazer ouvir a sua voz. Na altura a tv mostrou Sócrates, dentro de um autocarro onde viajava com a comitiva, a desdenhar a manifestação e a tecer comentários jocosos sobre o reduzido número de manifestantes.
Hoje, o pomposo Sócrates engoliu em seco e não disse uma única palavra quando os jornalistas lhe pediram para se referir à manifestação.
Momentos antes dissera que cumprirá as suas promessas. Mente! Prometeu redução dos salários e não cumpriu. Prometeu redução do desemprego e não cumpriu. Diz que serve os interesses do povo português e mente. Trata o povo e os trabalhadores com desprezo e azedume.
O rei D. Carlos também tratava o povo assim e acabou morto... por um professor.

quinta-feira, outubro 05, 2006

*Vermelhices (Comentários Políticos) XLI*

Soube hoje que a ministra da Educação, Maria de Lurdes Rodrigues, nos seus tempos de estudante universitária, no ISCTE, era anarquista e aluna do professor João Arsénio Nunes, que lecciona a cadeira de História do Movimento Operário e do Socialismo. Ora a nossa irreverente Marilu ficou furiosa por o professor lhe ter atribuído a nota de 13. Achava ela que era um Bakunine de saias e pontificava em conhecimento do conteúdo da matéria. Depois de ter ouvido esta história (de fonte seguríssima) reflecti sobre o assunto e achei que o professor beneficiara a criatura com semelhante classificação. A Marilu revela uma completa ignorância no que diz respeito à história dos movimentos sociais e, muito particularmente, do sindicalismo. Se soubesse teria muito mais cuidado e respeito para com os professores. É que os brandos costumes podem enganar.
Mais tarde, ouvi daquela boca (será que a nossa ex-anarca alguma vez se riu na vida?) a recomendação aos professores para que lessem o Estatuto (entenda-se Estatuto da Carreira Docente). Suponho que o terá dito a propósito de uma declaração de algum docente um pouco menos informado. ou então porque é demagoga e não sabia o que dizer.
Ocorreu-me então que a senhora não deve ter lido nem a Lei de Bases do Sistema Educativo nem a Constituição da República Portuguesa; textos que foram escritos no tempo em que a menina brincou às bombinhas e que foram construídos por aqueles que efectivamente fizeram a história dos movimentos sociais. Aqueles que lhe podem dar valiosíssimas lições e facultar-lhe, não fosse ela tão pretenciosa e arrogante, bem mais do que um 13 desmerecido.


O professor da História do Socialismo e do Movimento Operário caminhava na manifestação. A Lurdinhas continua a não ouvir o professor.

terça-feira, outubro 03, 2006

Dúvida

Será que o espírito de natal chegou com meses de antecedência ou o comércio quer fazer a virgem parir o menino mais cedo do que é costume para contornar a crise por via do consumo das festividades?

.... Na Amadora começaram a por luzes em feitio de flocos de neve em meados de Setembro...

... Qualquer dia, acabam de comemorar a ressureição com os ovinhos e os coelhos (um dia alguém me há-de explicar a relação dos coelhos com os ovos e a paixão de Cristo) e já andam pais natais pendurados nas janelas e meninos deitados nas palhinhas...

sábado, setembro 30, 2006




















Parabéns Marta!

sexta-feira, setembro 29, 2006

mais festa!



Véspera da abertura: os camaradas são muito piadistas...

sábado, setembro 09, 2006

A nossa festa!



Episódio da implantação da Festa. Tó Calvino discursa para as massas (um pouco bebido, é certo, mas muito certeiro)

quarta-feira, julho 26, 2006

Férias!!!!

Vou de férias.

Andei a martirizar-me achando que na condição de desempregada é preciso muita lata para ir de férias. Improdutiva! Não fazes nenhum e ainda queres passear! É para passares férias que ganhas o subsídio de desemprego?

Pois bem! A bem da minha saúde mental e porque o país vai mesmo pelo cano e não há perspectivas de vir a obter emprego nos próximos tempos… vou de férias.

Primeiro a Sines rumo ao Festival de Músicas do Mundo e depois a Sendim, para o Intercéltico.

Acampar, ler, desenhar, escrever os contos eróticos que me andam pela cabeça, dormir, passear e apanhar sol. É o que basta.

Quando voltar espero que tenham tomado bem conta da capital.

… E da Internet.

segunda-feira, julho 24, 2006

Para onde vamos?

sexta-feira, julho 21, 2006

Obrint Pas na Festa do Avante!


Há cerca de ano e meio mandaram-me uma música. Apaixonei-me.

Ouvia-a vezes sem conta como uma adolescente fechada num quarto saltando ao ritmo de uma música pop ou como um velho bêbado chora o Vítor Espadinha agarrado a uma juke box.
Em Abril tive a oportunidade de os ver em Etxarri (País Basco).
Soube bem, soube a pouco de saber a tanto, como diria o outro.
A caminho de Lisboa suspirava e debatíamos sonhando que era bom virem a Lisboa. e Extraordinário se fosse na Festa do Avante!

A minha alma ficou enebriada! A banda catalã vai estar na Festa do Avante! no dia 3 de Setembro.

Para conhecer: site

Para escutar:
-- sense terra
-- la flama
-- els crits de la terra
-- no tingues por
-- del sud

quinta-feira, julho 20, 2006

«A poesia deve ter por
fim a verdade prática»

Aos meus amigos exigentes



Se eu vos digo que o sol na floresta
É como um ventre que se entrega num leito
Vós acreditais e aprovais os meus desejos


Se eu vos digo que o cristal dum dia de chuva
Ressoa sempre na languidez do amor
Vós acreditais e aumentais o tempo do amor


Se eu vos digo que entre os ramos do meu leito
Faz ninho um pássaro que nunca diz sim
Vós acreditais ainda mais e depois compreendeis-me


Mas se eu canto sem desvios a minha rua inteira
E o meu país inteiro como uma rua interminável
Vós não me acreditais e partis para o deserto


Porque vós marchais sem fim sem saber que os homens
Precisam de estar unidos de esperar e de lutar
Para explicar o mundo e para o transformar


Ao ritmo do meu coração levar-vos-ei
Estou sem forças vivi e vivo ainda
Mas eu me espanto de falar para vos arrebatar
Quando eu quereria libertar-vos para vos confundir
Tanto com a alga e o junco da aurora
Como com vossos irmãos que constroem a luz
.



(in «Poèmes Politiques»,
Trad. de António Ramos Rosa,
«Árvore - folhas de poesia»,
Introdução e índice de Luís Adriano Carlos,
Campo das Letras, 2003)

PAUL ÉLUARD

segunda-feira, julho 17, 2006

UNIDADE SINDICAL Posted by Picasa

quinta-feira, julho 13, 2006

a trabalhar para a festa - operario

a trabalhar para a festa - os desalojados

terça-feira, julho 11, 2006

A rapariga das cerejas e das estrelas
(a treinar o Illustrator)

segunda-feira, julho 10, 2006

*Vermelhices (Comentários Políticos) XL*

Estou seriamente a pensar escrever uma carta aberta ao ministro Sócrates. Qualquer coisa que comece assim:

"Senhor ministro,

Que mal lhe fiz eu? Não sou preguiçosa nem incompetente, quero poder contibuir com o meu trabalho para o desenvolvimento do país, quero ter sustento e estabilidade de vida para a poder gozar. Não tenho grandes ambições de riqueza material, apenos quero o suficiente para poder comer e manter uma modesta casa, para poder ligar aos meus amigos e ir passear com eles, para, de vez em quando, poder ir ao cinema, a um concerto ou outro e a uma exposiçãozita.
Não percebo porque é continuo desempregada; os meus rendimentos a baixarem, as despesas com transportes, comunicações, luz, gás, alimentação, seguros, sempre a aumentarem e a ver a riqueza de uns cada vez maior.
Que mal lhe fiz eu? Foi não ter votado no seu partido? mas e outros que votaram? estão a ser castigados porquê? É por não ser bonita? O Belmiro tamém é feio...
Só encontro uma explicação: o senhor ministro está zangado e quer vingar-se nos portugueses. Não seria melhor retirar-se? procurar um bom psiquiatra e tentar apaziguar-se com o país?"

Bom, a coisa seria mais ou menos assim. Que tal?

sexta-feira, julho 07, 2006

Todos à Comuna para ver o André

terça-feira, julho 04, 2006

Aquela noite de Dezembro, em clima de festas, foi quase uma prenda de Natal.

Não sabia então que alguém tão cuidadoso com as palavras pudesse não ter pensado no que dizia.

Depois apercebi-me que as pessoas estão dispostas a tudo no limite da possibilidade e que, não raras vezes, esses limites são bastantes estreitos.

Riste-te num momento, quase derradeiro, em que, olhando o céu pensei em voz alta; “tudo é possível, tudo é concebível, nem tudo é executável”.

É estranho como as coisas óbvias são por vezes as mais difíceis de serem paridas.

quinta-feira, junho 29, 2006

Reflexões

No café discutia-se quem ia ganhar o concurso de dança. Era cedo e os empregados distraíam-se com a televisão. Olhando para eles ninguém pensaria que tinham tanto para dizer sobre danças de salão. Em pouco tempo mudaram de assunto; o futebol ganha sempre sobre qualquer conversa. No entanto, o cliente que entretanto se sentou não parecia estar a par das novidades. Fazia perguntas enquanto enrolava um cigarro e tomava lentamente uma cerveja. À falta de companhia olhava também de relance o concurso de dança que, entretanto, suscitara nova discussão: o local onde decorria. Ela, sentada um pouco mais à frente do que ele, lembrou-se que esse local já fora palco de muitos acontecimentos relevantes para a história do país. Com um pouco de sorte e empenho poderia vir ainda reconquistar essa importância e não se ficar pelos concursos de dança televisivos, imitações medíocres de entrega de Óscares, teatros musicais promovidos pelo statuos quo ou de touradas. Sim, aquele local poderia voltar a trazer ao rubro a vontade popular. Pensava ela nisto e pensava sobre a maneira de reverter o preconceito instalado sobre tudo o que fossem manifestações políticas de cariz revolucionário.

Ele pediu o jornal e perdeu-se na sua leitura.

Ela interrompeu os pensamentos e deteve-se na máquina das bolas surpresa. Depois reparou nele. Apreciou-o. Bebeu mais um gole de cerveja preta. “Não nos conhecemos e, provavelmente, nunca chegaremos a conhecer-nos. Como é esta vida de cidade! Cruzamo-nos vezes sem conta com certas pessoas. Já o tinha visto e morrerei sem falar com ele”.

terça-feira, junho 27, 2006

Mais um auto-retrato

* Gosto de coretos, particularmente em dias quentes de verão.
* Tenho projectos até ao fim da vida.
* Se visse o José Socratés acho que lhe cuspia na cara.
*
Teho saudades de comer abacate com limão e açucar, como o meu pai preparava quando era pequena.

*
Gosto de programas a dois que incluam passear pelas ruas e ver montras.

*
Se visse o Cavaco Silva também lhe cuspia a cara.

*
Mordo-me de inveja cada vez que vejo uma auto-caravana.

*
Choro quando vejo filmes de natal.

*
Gravo melodias que invento. mas como não sei música fico-me pelos assobios.

*
Gostava de ouvir atrás das portas uma conversa sobre mim.

* Fascinam-me os desenhos animados com casas nas árvores (o David, o gnomo e o vento nos salgueiros encantam-me).
*
Tenho medo de escrever uma carta a mim própria no futuro.

quinta-feira, junho 08, 2006

quase no fim

Este moinho vai desaparecer.
... Já falta pouco.

A rapariga vai continuar.

terça-feira, maio 30, 2006

Esta é a gaja de cara redonda, cabelos arruivados, lábios grossos e pele macia que povoava o imaginário dos rapazes nos anos 5o. Hoje em dia está fora de moda, tirando aqui e ali, ali e aqui.
As estrelas verdes servem para fazer contraste com o cabelo. Para quem não sabe, a velha combinação de cabelos ruivos e olhos verdes é muito fascinante por causa da complementaridade cromática. O fundo de padrões é parecer mais anos 50.
E não façam mais perguntas .
Bom, está bem... só mais esta: a estrela é porque ela é comunista (até andou na resistência francesa. Chama-se Charlotte).

sexta-feira, maio 19, 2006

Um grande pedido de desculpas a todos os que esperavam ver neste blog artigos de informação e opinião política. Mas agora só me dá para usar o lado esquerdo do cérebro...
Costuma-se dizer que aos artistas perdoa-se tudo. Gostava mesmo de ser artista... Feitio já tenho, só me falta a obra!

Quando chegará?

sábado, maio 13, 2006

Saudades da ilha azul

Saudadinha

Ó Tirana saudade
Ó Tirana saudade
Saudade, ó minha saudadinha
Foste nada no Faial
Foste nada no Faial
Foste nada no Faial
No Faial baptizada na Achadinha

Saudade onde tu fores
Saudade onde tu fores
Saudade onde tu fores
Saudade leva-me podendo ser
Que eu quero ir acabar
Que eu quero ir acabar
Que eu quero ir acabar
Saudade onde tu foras morrer

A saudade é um luto
A saudade é um luto
A saudade é um luto
Um amor, um amor, uma paixão
É um cortinado roxo
É um cortinado roxo
É um cortinado roxo
Que me morde, que me morde o coração

popular açoriana (adaptada por Josá Afonso)

sexta-feira, maio 12, 2006

Inconsistente

Já cheguei

Já parti

E enquanto não fiquei

Fugi

sexta-feira, maio 05, 2006

Quereres

" (...)

Eu queria querer-te e amar o amor, construír
mos dulcíssima prisão
E encontrar a mais justa adequação, tudo métrica e rima e nunca dor
Mas a vida é real e de viés, e vê só que cilada o amor me armou
E te quero e não queres como sou, não te quero e não queres como és

(...)

O quereres e o estares sempre a fim do que em mim é de mim tão desigual
Faz-me querer-te bem, querer-te mal, bem a ti, mal ao quereres assim
Infinitivamente pessoal, e eu querendo querer-te sem ter fim
E querendo te aprender o total do querer que há e do que não há em mim"


Cetano Veloso

sexta-feira, abril 28, 2006

ARTE DE TRANSFORMAR XLI I

COMO SERÁ ESTAR CONTENTE?

Como será estar contente?
Lançar os olhos em volta,
moderado e complacente,
e tratar com toda a gente
sem tristeza nem revolta?
Sentir-se um homem feliz,
satisfeito com o que sente,
com o que pensa e com o que diz?
Como será estar contente?

Deve haver qualquer mecânica,
qualquer retesada mola
que se solta e desenrola
no próprio instante preciso,
para que um homemde carne,
de olhos pregados no rosto,
possa olhar e rir com gosto
sem estranhar o som do riso.

Na minha tosca engrenagem,
de ferrugenta sucata,
há qualquer mola de lata
que não se distende bem,
qualquer dessorada glândula
ou nervo que não se enfeixa,
qualquer coisa que não deixa
deflagrar essa girândola
de timbres que o riso tem.

Não ter riso e não ter casa,
nem dinheiro nem saúde,
não se conta por virtude
que a miséria é ferro em brasa.

Mas ter casa, ter dinheiro,
ter saúde e nao ter riso,
flagelar-se o dia inteiro
como se o sangrar primeiro
fosse um tormento preciso,
tê-lo sempre forte e vivo,
espantado a todo o momento,
isso sim, será motivo
de grande contentamento.

ANTÓNIO GEDEÃO

terça-feira, abril 25, 2006


"E só nos faltava agora que este Abril não se cumprisse"

quarta-feira, abril 12, 2006

ARTE DE TRANSFORMAR XLI

A vida não é uma brincadeira.
Leva-a- a sério
como faz o esquilo, por exemplo,
sem nada esperares
de fora ou no além.
Tens apenas que viver.

A vida não é uma brincadeira.
Leva-a a sério,
mas tão a sério
que, posto contra a parede, por exemplo, de mãos atadas,
ou dentro de um laboratório
de bata branca e óculos grandes,
morras para que outros vivam,
outros de quem nunca verás o rosto,
e morras sabendo
que nada é mais belo, nada é mais verdadeiro do que a vida

Leva-a- a sério,
mas tão a sério
que aos setenta anos, por exemplo, plantarás oliveiras
não para as deixares aos teus filhos
mas porque embora a temas
não acreditas na morte
e sabes que a vida tem mais peso.

- Nazim Hikmet -

terça-feira, abril 11, 2006

orquídeas, gravitações e cicatrizações

"...
and when she sees his words and reads
she thinks of him"


... E ele? Calou-se depois de as escrever?
E só as teria dito? ou também as teria pensado?
E só as teria pensado? ou também as teria sentido?

Tudo foi maior do que esse sopro de uma noite.
As gravitações em torno dela deram lugar aos empurrões na concha dele.

Ele disse que cicatrizava. E ela?

"Dicen que no tengo duelo Llorona

porque no me ven llorar.

Hay muertos que no hacen ruido, llorona
y es más grande su penar."

As orquídeas continuam a florir

quarta-feira, abril 05, 2006

informação de última hora

sexta-feira, março 10, 2006

*Vermelhices (Comentários Políticos) XXXIX*

Dizia Zita Seabra, esse paradigma da coerência, da assertividade e da lealdade, na sua página quinzenal na revista, também ela maravilhosa, Vidas (para quem não sabe, é a que sai aos domingos com o Correio da Manhã) – e que eu só leio porque o meu avô a compra e a minha mãe traz para casa - , que: 1 - a “coisa” era atacada por todos os candidatos; 2 - os candidatos que não tinham hipótese de chegar a Belém tinham a vida facilitada porque podiam extravasar no seu discurso as competências do PR; 3 – falar do deficit era extravasar as competências do PR; 4 – aceitava que a “coisa” só percebia de finanças e acrescentava que “ (…) no entanto, lamentavelmente, o país está cansado de promessas, de belos discursos sem conteúdo, e quer que se acabe com este pesadelo de vermos a situação nacional agravar-se até chegarmos à insustentabilidade onde nos encontramos presentemente.”; 5 – se concebia o país e os candidatos “como se tratasse de uma espécie de luta entre o verbo e a verba, em que se considera analfabeto quem sabe de verbas e culto quem domina o verbo!”; 6 – achava que não devia ser presidente quem não lesse todos os dias o Financial Times ou o Spectator uma vez por semana, ou quem não tivesse um computador portátil e, acrescentava, não o usasse nas viagens (e eu a achar que era perigoso ligar os computadores nos aviões). Isto dizia ela a propósito da cultura sob o seu ponto vista (“tem muito que se lhe diga”); 7 – tinha um genro que ia trabalhar todas as semanas para a Suécia e voltava para trabalhar em Portugal. Finalizava lembrando que se ia eleger um Presidente para os próximos cinco anos.

Demorei algum tempo a perceber que aquilo era um texto de apoio à “coisa”. Sobretudo devido a esta questão da importância não extravasar as competências trazendo para o debate as questões financeiras, coisa que os outros candidatos que não percebiam de finanças andavam a fazer, enquanto que o candidato que só percebia de finanças e tinha a cultura do Financial Times e do Google não o fazia. E para além de não falar de finanças, o candidato não falava de praticamente nada (e estava no seu direito pois então! Agora um candidato tem que andar para aí a dizer o que vai fazer se for eleito, não?) o que, por revanchismo, teria levado a este problema da cultura (ou da falta dela).

E assim arrumava ela o problema. Um candidato assim é o que se quer. Podia ser presidente daqui ou do Japão. Podia até mesmo, ser presidente de Portugal e viver na Jamaica. Tudo passa pela banda larga. Ler o Financial Times, O Spectator e ter um computador portátil é o que se espera. Nem precisava de ser português (que limitação tão estúpida essa!). Podia ser o Bush, porque não? Será que lê o Financial Times todos os dias? Em última análise até podia mesmo ser um robot (programado para tratar de finanças, mas que não seria usado porque não seria essa a sua competência). Constituição da República Portuguesa? Defesa da soberania nacional? Valorização da nossa riquíssima cultura, tão ameaçada pela “globalização”? Profundo conhecimento dos problemas dos que mais afligem os portugueses? Se vem no Google muito bem, se não, é coisa “muito datada”.

Tudo parecia bater certo. No entanto, só para experimentar este cibernético modelo de presidente, fui ver se no Google havia alguma coisa sobre Os Lusíadas. E não é que havia mesmo! Mais do que uma edição electrónica! Bom, fiquei então de pé atrás: se vem no Google como é que a “coisa” não sabe quantos cantos tem?

Acalmei-me. A leitura do Financial Times e do Spectator, mais o nervosismo de ligar e desligar computadores nas viagens de avião, não deve libertar tempo para essas coisas tão “datadas”.

Pensava eu que a “coisa” ia tomar posse por e-mail, que só quem estive ligado à net é que seria convidado a participar na cerimónia e que essa seria transmitida em vídeo-conferência, quando vejo passar pelo portão escancarado do “velhinho” palácio de Belém o eleito, de mão dada com toda a sua família. Tudo com um ar tão tradicional, tão “boas famílias” portuguesa, tão comovente que certamente terá provocado lágrimas nos olhos de muitas velhinhas que nunca viram o ecrã de um computador. Um espectáculo que me lembrou aqueles cartazes da Lição de Salazar, do “orgulhosamente sós”, “pobrezinhos mas honrados”, “respeitadores dos bons costumes”, e “a bem da nação”, claro está.

Ó Zita! Olha que a bota não bate com a perdigota!

Se a “coisa” só sabe de finanças e vai para a presidência; se durante a campanha andava reservado e agora faz espectáculo; se balbucia que vai cumprir a Constituição e chega à presidência da república com tanta pompa como se fosse ser coroado; é bom que, quem não abriu o olho se mexa antes que seja tarde.

A mim irrita-me ter que levar com as consequências da estupidez eleitoral dos outros. Pior ainda é ter que ouvir o povinho a queixar-se e depois a comprar a revista Caras para ver a tomada de posse desta “coisa”.

Depois não digam que não avisei.