*Vermelhices (Comentários políticos) III*
Luta Estudantil
A Federação das Associações de Estudantes do Ensino Superior Particular e Cooperativo resolveu hoje, jornada nacional de luta dos estudantes do Ensino Superior, como forma de se desmarcar dos terríveis e ineficazes arruaceiros, reunir-se para discutir não sei bem o quê.
Um fulano, aparecia então a fazer declarações para a televisão. Referia que estes modelos de protesto (manifestações de rua) estavam ultrapassados e já tinham dado provas de não servirem para nada. Acrescentava que a solução passava pelas batalhas de gabinete. Ou seja; reuniões, declarações escritas, mais reuniões com pessoas importantes, cartas e faxes, mais reuniões com pessoas mesmo muito importantes, ofícios. Tudo muito limpo e muito civilizado.
Ao ver isto pensei; “das duas, uma: ou este gajo é uma besta descerebrada ou quer fazer dos colegas um bando de ignorantes amorfos”.
Para o caso da primeira hipótese ser a correcta, escrevi já uma missiva (tão ao gosto do destinatário) esclarecendo o estudante que, ao contrário das suas declarações, foram sempre as demonstrações de rua que concederam vitórias aos estudantes e a história revela isso mesmo. Só um profundo desconhecimento dos factos ou uma extrema leviandade pode levar alguém a afirmar outra coisa. Foi o forte e vasto movimento estudantil que, de 1992 a 1996 travou o brutal aumento de propinas no Ensino Superior Público (é de lembrar que a pretensão inicial do governo de Cavaco Silva era levar os estudantes e suas famílias a custear integralmente as despesas de formação). Foi depois o esmorecer dessa luta que permitiu a abertura de flancos por onde penetraram o aumento das propinas, a degradação e privatização da Acção Social Escolar, a redução da participação dos estudantes na gestão das instituições, etc., etc., etc.
E a par desse esmorecimento foi crescendo a voz desses asseados colegas que com ares de grande sapiência afirmavam que manifestações, concentrações, greves, boicotes e todas essas acções que pressupõem a participação directa dos estudantes eram contraproducentes. Eram as conferências de imprensa e as reuniões com ministros, secretários de estado e reitores que trariam grandes vitórias.
Antes, como agora, os defensores da reuniologia ministerial cometeram um erro crasso de análise (a acreditar na hipótese da ingenuidade):
1 – As reivindicações estudantis (como a dos trabalhadores e das populações) são ignoradas, não por falta de conhecimento daqueles que têm a competência para tomar decisões, mas, por inadequação das mesmas aos interesses particulares;
2 – A capacidade de diálogo dos estudantes (como a dos trabalhadores e das populações em geral) depende da força que estes têm e nunca da sua capacidade de argumentação e sensibilização de governantes;
3 - A força dos estudantes, é a força do número, da unidade, do esclarecimento, da razão, e não o carisma dos representantes ou a popularidade televisiva dos mesmos.
Não admira que digam que as demonstrações de rua são más, incomoda-os de tão eficazes que podem ser
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