terça-feira, dezembro 27, 2005

Onde pára o riso?

"Eu não quero mais mentir /Usar espinhos que só trazem dor /Eu não enxergo mais o inferno/Que me atraiu /Dos cegos do castelo me despeço e vou /A pé até encontrar /Um caminho /O lugar /Pro que eu sou /
Eu não quero mais dormir /De olhos abertos me esquenta o sol /Eu não espero que um revólver venha explodir /Na minha testa se anunciou
A pé a fé devagar /Foge o destino do azar que restou..." Titãs (Os cegos do castelo)


Molhar os pés em água fria é bom.

Ler um bom livro também.

Ovos moles.

Ouvir música, dançar.

“São as pequenas coisas que se ama que nos fazem felizes”

“Aproveita”

“Aproveita”

“Aproveita cada segundo da tua vida”

Disseram-me.

Eu tentei.

Mas a solidão ainda assim abate-se sobre mim.

O que é que eu posso aproveitar se nada puder partilhar.

E no entanto,

A minha vida não é apenas minha.

É cada vez menos minha.


Sentimo-nos sós quando nos cortam o cordão umbilical,

Quando deixamos de mamar,

Quando largamos as mãos,

Quando acabamos de fazer amor e não nos olham de frente,

Quando deixamos de ser ouvidos.

Eu abdicaria dos meus queridos defeitos para poder reaver o riso, perdido algures num tempo antes de mim, de quem ri por complemento a outro riso. O riso do calor.

E no entanto, tropeço e enleio-me numa teia de insegurança, obstinações, preconceitos, outras prioridades, recalcamentos, apatias e dor.

terça-feira, dezembro 20, 2005

Poema muito prático sobre um ataque de preguiça

A Piruette quer assar junto ao aquecedor.
Eu tenho que limpar a casa.
Não tenho pachorra.
A minha mãe quer decoração de natal.
Eu estou tão pouco natalícia.
Era giro viver como os hobbits.
Mas os hobbits têm que limpar a casa.
Ainda se pudesse ouvir a Yma Sumac aos altos berros...
Mas são 23 horas.
Melhores dias virão.
Mas terei sempre que limpar a casa.
Antes do mais queria mesmo uma casa.
Mesmo que não fosse como a dos hobbits
(é mais fácil ter uma casa como a dos hobbits do que como a dos elfos.
Os elfos são burgueses com mulheres a dias).

sexta-feira, dezembro 16, 2005

Permuta

Há por aí alguém interessado em trocar a alma?

quarta-feira, dezembro 14, 2005

Amadora no seu melhor!

Aqui está a grande explicação para a rica e esclarecedora frase de campanha da candidatura de Francisco Louçã. "Olhos nos olhos" (nas beiras diz-se "Jolhos nos Jolhos") para o cidadão desatento parece demagogia barata e populista ("o que raio é que este gajo quer com isto? dizer que só pratica a posição do missionário? mas ele até é o tipo dos direitos dos gays!"). Para os adeptos significa frontalidade. Mas frontalidade por si só não é garante de defesa da democracia e da Constituição. Há por aí muitos capitalistas sem vergonha (cada vez mais) que assumem com frontalidade que nos andam a lixar. Mas aí está: numa rua do grande concelho da Amadora encontrei este mupi e percebi tudo. Louçã, num rasgo de genialidade, descobriu que os portugueses andam com os olhos por todo o lado menos no sítio onde deviam, isto é; nos próprios olhos. Isto diz muito sobre as tristes opções eleitorais que têm sido feitas. Pois claro. Quando os olhos não estão nos olhos não podem ver grande coisa. Assim, o candidato entende que a malta deva ir em massa, e com urgência, ao oftalmologista. Se Louçã for eleito presidente seremos a república com melhor acuidade visual do mundo. O que será um problema para o BE, que anda por aí a enganar muita e boa gente.

terça-feira, dezembro 13, 2005

sonhos 1

Há alguns dias atrás sonhei que vivia numa comuna. Depois, ao pensar no assunto, dei-me conta que nunca sonhei (de olhos fechados e a dormir) com aquilo que realmente quero. Estranho. Nunca sonhei estar com os amores da minha vida. Nunca sonhei estar com um emprego e uma vida estável. Nunca sonhei com a revolução.

Este foi, talvez, um dos sonhos que mais se aproximou da vida como eu a quero.

sexta-feira, dezembro 02, 2005

quinta-feira, dezembro 01, 2005

*Vermelhices (Comentários Políticos) XXXV*

Assinalamos hoje 350 anos sobre a restauração da independência.

Ironicamente somos hoje um país mais dependente de Espanha: mais de 70% do nosso consumo é importado do estado espanhol.

Ironicamente também, vivemos um período de pré-campanha eleitoral para a presidência da República em que os candidatos da direita (e incluo aqui os militantes do PS), que espezinharam a Constituição da República Portuguesa, que foram responsáveis pela destruição do aparelho produtivo, pelo atraso e dependência económica do nosso país, dizem agora zelar pela soberania e independência nacionais.

sábado, novembro 19, 2005

Quatro poemas de Brecht a Quatro candidatos

Cavaco Silva

DIFICULDADE DE GOVERNAR

“(…)

3

Se governar fosse fácil

Não havia necessidade de espíritos tão esclarecidos como o do Führer [leia-se Cavaco]

Se o operário soubesse usar a sua máquina

E se o camponês soubesse distinguir um campo de uma forma para tortas

Não haveria a necessidade de patrões nem de proprietários.

E só porque toda a gente é tão estúpida

Que há necessidade de alguns tão inteligentes.

4

Ou será que

Governar só é tão difícil porque a exploração e a mentira

São coisas que custam a aprender?”

Mário Soares

A PROPÓSITO DA NOTÍCIA DA DOENÇA DE UM PODEROSO ESTADISTA

“Se este homem insubstituível franze o sobrolho

dois reinos periclitam

se este homem insubstituível morre

o mundo inteiro se aflige como a mãe sem leite para o filho

se este homem insubstituível ressuscitasse ao oitavo dia

não acharia em todo o império uma vaga de porteiro.”

Manuel Alegre

ALGUMAS PERGUNTAS A UM “HOMEM BOM”

“Bom, mas para quê?

Sim, não és venal, mas o raio

Que sobre a casa cai também

Não é venal.

Nunca renegas o que disseste.

Mas que disseste?

És de boa fé, dás a tua opinião.

Que opinião?

Tens coragem.

Contra quem?

És cheio de sabedoria.

Para quem?

Não olhas aos teus interesses.

Aos de quem olhas?

És um bom amigo.

Sê-lo-ás do bom povo?

Escuta pois: nós sabemos

Que és nosso inimigo

(…)”

Jerónimo de Sousa

TOMA O TEU LUGAR NA MESA

“Toma o teu lugar na mesa, foste tu que a puseste.

(…)

Hoje ao meio dia em ponto

Começa a idade de ouro.

Nós vamos inaugurá-la por sabermos que

Estais fartos de construir casas que jamais habitais. Queremos crer

Que doravante ireis comer o pão que cozestes.

(…)

Adiar mais a idade de ouro?

Nós não somos eternos.”

terça-feira, novembro 15, 2005

ARTE DE TRANSFORMAR XXXIII


NINA SIMONE

Love Me or Leave Me

Love me or leave me and let me be lonely
You won't believe me but I love you only
I'd rather be lonley than happy with somebody else

You might find the night time the right time for kissing
Night time is my time for just reminiscing
Regretting instead of forgetting with somebody else

There'll be no one unless that someone is you
I intended to be independently blue

I want you love, don't wanna borrow
Have it today to give back tomorrow
Your love is my love
There's no love for nobody else

Say, love me or leave me and let me be lonely
You won't believe me but I love you only
I'd rather be lonley than happy with somebody else

You might find the night time the right time for kissing
Night time is my time for just reminiscing
Regretting instead of forgetting with somebody else

There'll be no one unless that someone is you
I intended to be independently blue

Say I want your love, don't wanna borrow
Have it today to give back tomorrow
Your love is my love
My love is your love
There's no love for nobody else

(1928) Walter Donaldson, Gus Kahn

sexta-feira, outubro 28, 2005

UM ANO!


E
stou neste momento sentada com a minha gata Rosa ao colo. A Piruette circula por aí.

Olho a parede em frente e vejo os velhos postais do MPLA, o cartaz do Lenine, a fotografia da manifestação de 1998 (que me custou o ano lectivo). Tenho frio. A minha casa é bastante fria. Penso nos trinta mil afazeres, nas contas para pagar, por trás das cortinas e sob um céu limpo tremem as luzes da noite. A Amadora pura e dura. De cimento e asfalto, de comboios, carros, lojas, risos, cães e ruído.

Há um ano tudo era diferente. Eu não suspeitava que o meu blog completaria este tempo de existência. Estava a kilómetros de distância, numa linda ilha no meio do Atlântico, e resolvi criá-lo para estabelecer uma ponte com os amigos que tinham ficado para trás. Foi aliás, sob sugestão de alguns (que nunca se dignaram a fazer um único comentário) que resolvi abrir a alma ao mundo. Aqui deixei vaguear a imaginação, expor as minhas ideias e convicções, confessar sentimentos, fazer graças. Procurei fazer desta página um espelho de mim própria. Nunca o consegui inteiramente. Se já na vida real tentamos varrer os defeitos para baixo do tapete, no virtual parecemos um poço de virtudes (e só nas entrelinhas e nos silêncios é que nos revelamos inteiramente).

Hoje olho para o “rapariga vermelha” como uma divisão da minha casa, um armário de pensamentos. E olho para os blogs (não os de tertúlia e pura verborreia intelectual, mas aqueles que são os diários abertos das nossas vidas) como quem olha pela janela dos outros. Janelas que se deixam abertas propositamente, para que se possa ver o que queremos que se veja, mostrar o que queremos que se valorize. E isso diz tanto sobre nós…

Os blogs podem ser gargalhadas contagiantes, embalos poéticos, gritos de socorro, ideias geniais à espera de debate ou aplicação ou panfletos de propaganda. No caso deste tenho procurado que seja um pouco de cada uma destas coisas (modéstia à parte no caso das ideias geniais).

Está aqui há um ano a contar a minha vida. Quem sabe onde estarei sentada daqui a um ano a redigir um novo texto ou a postar uma nova foto?

Está aqui há um ano. Para quem quiser, para quem o encontrar.

Post Scriptum

Obrigada Luísa e João Lopes

terça-feira, setembro 20, 2005

ARTE DE TRANSFORMAR XXXIV

A um ti que eu inventei

Pensar em ti é coisa delicada.

É um diluir de tinta espessa e farta

e o passá-lo em finíssima aguada

com um pincel de marta.

Um pesar de grãos de nada em mínima balança,

um armar de arames cauteloso e atento,

um proteger a chama contra o vento,

pentear cabelinhos de criança.

Um desembaraçar de linhas de costura,

um correr sobre lã que ninguém saiba e oiça,

um planar de gaivota como um lábio a sorrir.

Penso em ti com tanta ternura

como se fosses vidro ou película de loiça

que apenas com o pensar te pudesses partir.

António Gedeão

segunda-feira, setembro 05, 2005

*Vermelhices (Comentários Políticos) XXXIV*

40 mil professores desempregados.

Um número.

Para quem não sente soa ao mesmo que dizer 20 000 professores desempregados.

Também não é diferente de dizer 5 mil professores desempregados.

Para os mais desinteressados, dizer 40 mil professores desempregados ou 400 professores desempregados provoca a mesma reacção.

Um número.

Como quem diz 40 mil grãos de arroz, ou 40 mil litros de água, ou 40 mil kilómetros.

Façamos a experiência; escrever 40 mil professores desempregados de maneiras diferentes:

Quarenta mil professores desempregados;

40 mil professores desempregados;

40 000 professores desempregados;

20 000 professores desempregados + 20 000 professores desempregados;

10 000 professores desempregados + 10 000 professores desempregados

+ 10 000 professores desempregados + 10 000 professores desempregados;

5 000 professores desempregados + 5 000 professores desempregados + 5 000 professores desempregados + 5 000 professores desempregados + 5 000 professores desempregados + 5 000 professores desempregados + 5 000 professores desempregados + 5 000 professores desempregados;

1 000 professores desempregados + 1 000 professores desempregados + 1 000 professores desempregados + 1 000 professores desempregados + 1 000 professores desempregados + 1 000 professores desempregados + 1 000 professores desempregados + 1 000 professores desempregados + 1 000 professores desempregados + 1 000 professores desempregados + 1 000 professores desempregados + 1 000 professores desempregados + 1 000 professores desempregados + 1 000 professores desempregados + 1 000 professores desempregados + 1 000 professores desempregados + 1 000 professores desempregados + 1 000 professores desempregados + 1 000 professores desempregados + 1 000 professores desempregados + 1 000 professores desempregados + 1 000 professores desempregados + 1 000 professores desempregados + 1 000 professores desempregados + 1 000 professores desempregados + 1 000 professores desempregados + 1 000 professores desempregados + 1 000 professores desempregados + 1 000 professores desempregados + 1 000 professores desempregados + 1 000 professores desempregados + 1 000 professores desempregados + 1 000 professores desempregados + 1 000 professores desempregados + 1 000 professores desempregados
+ 1 000 professores desempregados + 1 000 professores desempregados + 1 000 professores desempregados + 1 000 professores desempregados + 1 000 professores desempregados;

500 professores desempregados + 500 professores desempregados + 500 professores desempregados + 500 professores desempregados + 500 professores desempregados + 500 professores desempregados + 500 professores desempregados + 500 professores desempregados + 500 professores desempregados + 500 professores desempregados + 500 professores desempregados + 500 professores desempregados + 500 professores desempregados + 500 professores desempregados + 500 professores desempregados + 500 professores desempregados +500 professores desempregados + 500 professores desempregados + 500 professores desempregados + 500 professores desempregados + 500 professores desempregados + 500 professores desempregados + 500 professores desempregados + 500 professores desempregados + 500 professores desempregados + 500 professores desempregados + 500 professores desempregados + 500 professores desempregados + 500 professores desempregados + 500 professores desempregados + 500 professores desempregados + 500 professores desempregados + 500 professores desempregados + 500 professores desempregados + 500 professores desempregados + 500 professores desempregados + 500 professores desempregados + 500 professores desempregados + 500 professores desempregados + 500 professores desempregados + 500 professores desempregados + 500 professores desempregados + 500 professores desempregados + 500 professores desempregados + 500 professores desempregados + 500 professores desempregados + 500 professores desempregados + 500 professores desempregados + 500 professores desempregados + 500 professores desempregados + 500 professores desempregados + 500 professores desempregados + 500 professores desempregados + 500 professores desempregados + 500 professores desempregados + 500 professores desempregados +500 professores desempregados + 500 professores desempregados + 500 professores desempregados + 500 professores desempregados + 500 professores desempregados + 500 professores desempregados + 500 professores desempregados + 500 professores desempregados + 500 professores desempregados + 500 professores desempregados + 500 professores desempregados + 500 professores desempregados + 500 professores desempregados + 500 professores desempregados + 500 professores desempregados + 500 professores desempregados + 500 professores desempregados + 500 professores desempregados + 500 professores desempregados + 500 professores desempregados + 500 professores desempregados + 500 professores desempregados + 500 professores desempregados + 500 professores desempregados;

Continuamos?

São 40 mil frustrações, 40 mil angústias, 40 mil cordas na garganta, 40 mil futuros incertos, 40 mil famílias sem perspectivas.

...

Como é que o Sócrates aguenta tantas frustrações, tanta angústia e tamanha falta de perspectiva? Simplesmente porque governa números.

… Um dia destes ainda lhe vamos mostrar 40 mil indignações, 40 mil revoltas, 40 mil vozes a dizer BASTA! E um pontapé no cú que o fará voar 1 km por cada professor desempregado, indo parar … ao extremo oriente.

40 mil professores desempregados

… e eu sou um deles.

sábado, agosto 27, 2005

LUA DA ATALAIA

Soneto com referências toponímicas

“Luar de Janeiro não tem primeiro,

mas o de Agosto dá-lhe no rosto”*

Vi-te na Praça 25 de Abril

Inundaste-me os olhos de alegria

A tua imagem recortada em tons de anil

Tornou quente a noite fria.

Entrámos descendo a Medideira

Subimos a rua da Unidade

Trabalhaste à minha beira

Na construção da nossa cidade.

Já regressando pela fraternidade

Que continuasses comigo eu queria

Para iluminares a festa da verdade.

E se há dúvidas que chegará o dia

Em que vingará para sempre a liberdade

Tu, lua da Atalaia, és garantia!

* ditado popular

quarta-feira, agosto 03, 2005

Barcelona

"los indios del barcelona
son mas indios que los de Arizona !"

Manu Negra

Estranha sensação de liberdade esta em Barcelona.

A imaginação fervilha libertando bolhas coloridas num lago ladrilhado de pedrinhas de vidro e cacos de ceramica.

Os jardins das festas galantes e as festivas ruas que já foram medievais, as feiras e os mercados, pessoas e mar.

Que vontade de dar asas à criação e planar para sempre no prazer estético.
E planar sempre...

terça-feira, julho 26, 2005

Até sempre ilha azul!

Foi bom. Apesar de tudo foi bom. Que me desculpem os faialenses pelo “apesar de tudo”. Mas não posso deixar de dizer que a integração nessa terra não é fácil. O povo é desconfiado e os círculos são fechados. Confesso que à partida achei que pudessem ser ainda mais inóspitos, depois vi que o ambiente era um pouquito mais cosmopolita, no entanto 15.000 pessoas são muito poucas pessoas. Salvo raras excepções, fiquei convencida que são os não-açorianos que dão vida à ilha. Todavia são não-açorianos que adoptaram a ilha como sua e talvez sejam esses os mais faialenses de todos. Isto é; aqueles que optaram pelo Faial. Esses sim, gostam de mostrar a sua bela terra!

Eu também não sou uma pessoa fácil. Pelo contrário; é-me difícil fazer amigos. O facto de não conhecer absolutamente ninguém na ilha agravou a situação. Descobri aí que sou tímida, muito tímida. Introvertida não, isso não sou, embora me ocupe muito dos meus pensamentos, projectos, sonhos. Falo facilmente com as pessoas, mas há sempre uma barreira difícil de transpor entre mim e os outros. Uma barreira de receios. Receios de quê? Da diferença, creio. Confio na humanidade, acredito na mudança, valorizo a responsabilidade, a crítica e a auto-crítica, o altruísmo, a honestidade. Estas são características que fazem de mim diferente. Infelizmente são poucos os sonhadores e os guerreiros da igualdade e por isso isolo-me. Custa-me ser olhada como uma perigosa ameaça ao status quo, custa-me ter de argumentar em favor do progresso, da justiça e da verdade. Para mim estes ideais são tão básicos que me é difícil ter de argumentar em favor deles. “Dona da verdade”? Julgo que não. Embora admita que posso ser muito intolerante e vista como uma presunçosa. Tenho um comportamento que me irrita a mim própria: tolero situações de abuso até ao limite, convenço-me de que as próprias pessoas tomam consciência das suas atitudes, quando a situação se torna insustentável rebento de cólera e torno-me rancorosa. Dificilmente perdoo ou esqueço. Sei que o meu fechamento é uma atitude muito estúpida para quem confia na humanidade. Deveria ser antes aberta, tolerante e afável. Mas não sou tão forte assim. É uma mágoa que transporto.

Enfim, a estadia no Faial foi uma viagem dentro de mim própria, mas receio bem aterrar em Lisboa sem saber que rumo tomar.

Mas foi bom. Foram bons os passeios no jardins, os banhos na piscina e no mar, os passeios na marina, o leite com café de manhã, a janela com vista para o Pico, algumas aulas, estender a roupa no terraço, etc. Vivi intensamente um a rotina muito dedicada a mim própria. Mas também me afeiçoei a algumas pessoas, das quais, antes de partir, já tenho saudades: O Luís (sobretudo do chá relaxante), O Fernando (e as suas apresentações PowerPoint), A Cristina (Ah! Que pessoa extraordinária!), o Gonçalo (Ah! Um génio da criação) e o José Decq Motta (velho farol).

Até sempre ilha azul!

segunda-feira, julho 11, 2005

COMUNICADO

aprende a bailar Chipi Chipi Posted by Picasa


Ultimamente ando pouco dada à escrita...
Apetece-me pensar com o lado esquerdo do cérebro.

sexta-feira, junho 24, 2005

Coisas que ficam bem aos pares

Posted by Picasa


à Matilde e à Maria (Carlota)

Yin e Yang

A equilibrar

Os pombos

A namorar

Pires e chávena

A descansar

Luvas

A acalentar

A faca e o garfo

A trabalhar

Cerejas

A conversar

Caneta e papel

Para desenhar

Meias

A combinar

Dia e noite

A alternar

Romeu e Julieta

A sonhar

Mãos

A agarrar

Olhos

A entreolhar

Céu e mar

A orientar

Saleiro e pimenteiro

A temperar

Chá e biscoitos

A confortar

Preto e branco

A contrastar

Sapatos

A caminhar

Sobrinhas

Para abraçar

segunda-feira, junho 20, 2005

*Vermelhices (Comentários Políticos) XXXIII*

A senhora ministra da Educação quer:

- reduzir a despesa – fechando as vagas dos lugares de quadro – substituir por trabalho precário – professores sem vínculo, sem motivação, sem direitos – substituir um corpo docente estável por um instável – substituir uma comunidade educativa coesa por uma fragmentada – prejudicar a educação;

- reduzir a despesa – adiando a reforma dos professores – negando o merecido descanso a trabalhadores com 36 anos ao serviço da escola pública – obrigando, indiscriminadamente, professores com mais de 60 anos de idade a aguentar o violento stress da actividade docente – afectando deste modo a qualidade do ensino – prejudicando a educação;

- reduzir a despesa – limitando a progressão na carreira – desrespeitando o esforço e o mérito dos professores – conduzindo estes ao desprezo pelo seu próprio trabalho que passam a limitar o seu trabalho ao mínimo – prejudicando a educação;

- reduzir a despesa – deixando de pagar aos professores estagiários – obrigando estes a ter que continuar na dependência dos pais ou a procurar um emprego – reduzindo a disponibilidade e o entusiasmo dos estagiários – prejudicando a educação;

- reduzir a despesa - Passando as reduções da componente lectiva por tarefas de coordenação para a componente não lectiva – diminuindo assim o tempo de trabalho destinado à preparação de aulas, documentação, estudo, correcção e avaliação – prejudicando a educação;

- reduzir a despesa – acabando com os cargos e competências da gestão democrática – diminuindo a autonomia dos estabelecimentos de ensino de se auto-gerirem de acordo com as suas necessidades e objectivos traçados pela comunidade escolar – prejudicando a educação.

E ainda dizem que os professores é que querem prejudicar a educação

GREVE!

terça-feira, junho 14, 2005

*Vermelhices (Comentários Políticos) XXXI* - Álvaro Cunhal 2

Do poema
Lampara Marina

(...)

II

Oh Portugal hermoso
cesta de fruta y flores,
emerges
en la orilla plateada del océano,
en la espuma de Europa,
con la cítara de oro
que te dejó Camoens,
cantando con dulzura,
esparciendo en las bocas del Atlántico
tu tempestuoso olor de vinerías,
de azahares marinos,
tu luminosa luna entrecortada
por nubes y tormentas.




III

Pero,
portugués de la calle,
entre nosotros,
nadie nos escucha,
sabes
dónde
está Álvaro Cunhal?
Reconoces la ausencia
del valiente
Militão?
Muchacha portuguesa,
pasas como bailando
por las calles
rosadas de Lisboa,
pero,
sabes dónde cayó Bento Gonçalves,
el portugués más puro,
el honor de tu mar e de tu arena?
Sabes
que existe
una isla,
la isla de la Sal,
y Tarrafal en ella
vierte sombra?
Sí, lo sabes, muchacha,


muchacho, sí, lo sabes.

(...)




V

(...)

Navega, Portugal, la hora
llégó, levanta
tu estatura de proa
y entre las islas y los hombres vuelve
a ser camino.
En esta edad agrega
tu luz, vuelve a ser lámpara:
aprenderás de nuevo a ser estrella

Pablo Neruda
todo o poema


*Vermelhices (Comentários Políticos) XXX* - Álvaro Cunhal 1

desenho de Álvaro Cunhal Posted by Hello


De uma penada

responder aos profetas da desgraça,

aos caluniadores da história e do PCP,

afirmar o PCP e a luta dos comunistas,

dar alento à luta.

“O capitalismo procura convencer os povos de que a sua ofensiva global é imparável e irreversível, que o capitalismo é um sistema único e final, que acabou a luta de classes, que o comunismo morreu, que terminaram os ideais e as ideologias dando lugar ao “pensamento único”, o “pensamento” do capitalismo.

Em suma, procura convencer os povos de que, com a sua ofensiva global, vai inevitavelmente conquistar o mundo inteiro.

O capitalismo ilude-se porém a si próprio e cria assim a sua própria utopia.

A verdade é que o capitalismo está roído por contradições insolúveis, mostra-se incapaz de resolver os mais graves problemas da humanidade, cria cada dia problemas ainda mais graves, mantém e agrava a sua natureza exploradora, opressora e agressiva.

A luta de classes é um elemento omnipresente na política dos governos e na vida e na luta dos povos. Não se lhe põe fim por decreto ou proclamação. Os trabalhadores, os povos e nações oprimidas resistirão. Inevitavelmente.

O comunismo continua a ser a única alternativa histórica ao capitalismo e a mais válida esperança da humanidade.

No tempo da ditadura, da revolução e da contra-revolução, lutando com objectivos correspondentes a tão distintas situações, o PCP manteve sempre e mantém no horizonte o objectivo da construção de uma sociedade socialista em Portugal.

Uma sociedade nova e melhor, libertada da exploração e das grandes desigualdades e injustiças sociais. E redefinida tendo em conta as realizações e experiências históricas positivas e também as negativas da construção do socialismo, experiências das vitórias e das derrotas, e tendo também em conta as profundas alterações que se deram no mundo nas últimas décadas do século XX, e que exigem respostas novas a novas situações e a novos fenómenos.

A luta por este objectivo não contraria, antes dá mais claro sentido, à luta presente pela democracia e independência nacional.

A construção do socialismo não pode ser imposta a um povo. Não dispensa, antes exige, a decisão, a vontade, o empenhamento e a criatividade revolucionária dos trabalhadores e das massas populares. Tal como o PCP a projecta e propõe será uma expressão superior da democracia em todas as suas vertentes.

Álvaro Cunhal

In A verdade e a mentira na Revolução de Abril

quinta-feira, maio 26, 2005

Os três amores

Sensualidade – Conhece cada centímetro do meu corpo. Saboreia-me como a um pêssego. Quer que na sua cama eu viva o paraíso e transformou o meu ventre num local de culto. Assusta-se com a simples ideia de caminharmos juntos pela rua e receia o significado das palavras.

Companheirismo – Partilhamos experiências e visões do mundo. Lutamos juntos pelos ideais e pela vida de todos os dias. Tem medo de partilhar o prazer e de aprofundar os sonhos.

Sensibilidade – Abriu-me as portas da sua imaginação, guiou-me por sonhos, deu-me sorrisos e lágrimas de emoção. Não temos vivências em comum e nunca me deu um beijo.


quinta-feira, maio 19, 2005

*Vermelhices (Comentários Políticos) XVIII*

Liguei a televisão para ver as notícias enquanto almoçava. Não tardou muito para que as lágrimas rolassem dos meus olhos e fossem alagar o prato. Motivo: o encerramento de mais uma fábrica têxtil ao norte do país. Dois minutos depois anunciam que os números do desemprego voltaram a subir; 412 mil. A maior parte são mulheres.

Estas imagens repetem-se. Operárias à porta das fábricas impedindo que as máquinas saiam. Em todas elas a mesma frustração, o mesmo desespero, as mesmas queixas, as mesmas palavras de ordem. Doí-me. Doí-me sempre que fecha uma fábrica em Portugal.

Chama-se Joana. Começou a trabalhar com 16 anos numa empresa têxtil, algures no norte do país. É operária. No dia em que fez 23 anos recebeu a triste notícia de que a fábrica iria fechar. Não foi uma notícia inesperada, mas foi triste. A esperança é a última que morre, diz-se. A Joana não gosta da palavra esperança, nem gosta do provérbio “quem espera sempre alcança”. A vida tem-lhe ensinado que não se deve esperar por nada, deve-se lutar por tudo. Mas gosta da palavra sonho e prefere dizer que o sonho é o último que morre.

Os sonhos da Joana não são muito ambiciosos, resumem-se a uma vida simples; na sua terra, com a sua família, com as suas companheiras e o seu trabalho. Gosta de acordar cedo e respirar o ar da manhã, tomar o café com leite e o pão com manteiga à janela e descer a rua até à fábrica. No Inverno, pelo caminho, arranca azedas e vai chupando. Um hábito que nunca perdeu.

Não tem a graça de outras raparigas, não tem gargalhadas sonoras, não tem gestos delicados, não pestaneja com doçura, mas é uma jovem mulher de 23 anos que quer ser desejada e admirada.

Deixou de estudar com 15 anos. Não tinha dificuldades de aprendizagem, mas nada à sua volta lhe dizia para continuar os estudos. Os pais repetiam que ela devia estudar, mas não lhe souberam dizer porquê. Os deveres eram muitos, as distracções também e pesou, sobretudo, a vontade de ser independente e de se sentir adulta. Depois arrependeu-se. Não se arrependeu de ter deixado de estudar, ainda não. Arrependeu-se de ter querido ser adulta muito cedo. Tinha a consciência de que isso a tornou uma mulher seca. Mas não pensava nisso. E tinha momentos de alegria. E sabia retirar prazer do seu trabalho. Fazer as coisas bem realizava-a.

Na fábrica era uma excelente operária. As suas colegas eram também boas operárias. Algumas raparigas da sua idade não conheceram outra vida senão a da fábrica; uma delas estava lá desde os seus sete anos. Só passados muitos anos é que percebeu a razão porque era dispensada, juntamente com outras colegas, alguns dias do ano, quando iam uns homens de uma tal de Inspecção Geral do Trabalho. A Joana trabalhava na montagem das teias; controlava a inserção dos fios nos olhais dos liços e verificava as remissas, controlava também a inserção nas puas e a tenção da teia. Mas conhecia todo o processo de confecção de um tecido; as ordens de tecelagem, o controlo das lançadeiras, o controlo do bater do pente, o remate, os vários processos de acabamento. Na fábrica só se trabalhava a lã, fibras acrílicas e algodão. Tinha aprendido a trabalhar o nylon, mas o patrão acabou por vender o equipamento porque não quis investir na tecnologia de obtenção do fio que tornaria, a médio prazo, o processo mais barato. O patrão era muito dado a requintes, no entanto não passava de um imbecil que herdara a fábrica e que continuava a fazer exactamente o mesmo que o pai fazia desde os anos 50: receber lã de Inglaterra ou da Austrália, produzir os tecidos segundo padrões ingleses, colocar auréolas que diziam “made in England”, por vezes “made in Germany”, e enviar a preços baixíssimos para as empresas inglesas.

No início as trabalhadoras achavam piada ao verem nas lojas o produto do seu trabalho vendido como fazenda inglesa, Mas depois começaram a revoltar-se contra o fabrico daquelas auréolas e chegaram mesmo a pensar boicotar. Não seria difícil; bastava pedirem a alguma das desenhadoras, que trabalhavam num gabinete dentro da fábrica, que alterasse a ordem de tecelagem daqueles poucos fios tecidos em damasco ou com uma teia dupla, para que o resultado em vez de ser “England” fosse “Portugal”. Bem se arrependeram mais tarde de não o terem feito.

Joana gostava de andar pelo armazém da fábrica onde se empilhavam milhares de bobines de fios coloridos; laranjas, verdes, azuis, castanhos, amarelos, vermelhos. O trabalho era duro, principalmente no verão, manejar a lã e a fibra acrílica tornava-se um suplício. Mas o resultado enchia-a de uma contida felicidade: cumprir mais uma encomenda. As operárias da fábrica falavam das encomendas e da obrigação de cumprir prazos com mais zelo que o patrão. Elas tinham bem presente o tempo de trabalho necessário para cada tarefa, sabiam na perfeição quanto lucrava o patrão por cada hora de trabalho sua. O trabalho na produção em médias ou grandes fábricas confere essa consciência aos trabalhadores; enquanto desempenham tarefas repetitivas começam a fazer contas ao número de vezes que repetem cada operação; ao número de peças que produzem, ao número de horas que trabalham, ao preço a que são vendidos os seus produtos, ao custo de cada mercadoria. Mas ele gostava de se pavonear, de vez em quando, por entre os teares dispostos em duas filas ao longo de um grande armazém, e de rispidamente ordenar que trabalhassem sem se distraírem. Tinha de gritar, os teares em laboração são muito ruidosos e muitas das operárias iam ficando surdas. As mulheres mais velhas já não lhe davam grande atenção; algumas delas lembravam-se dele garoto a atrapalhar o trabalho. As mais novas tremiam com medo. Uma delas chegou a urinar pelas pernas abaixo porque ele insistiu que ela queria era fazer gazeta. Ela sentiu-se humilhada. As colegas odiaram-no ainda mais.

A fábrica era a vida da Joana e das suas colegas. Por aquele trabalho ela tinha feito um aborto aos dezassete anos. Algumas das operárias tinham filhas e cunhadas ali empregadas, umas poucas os maridos. A fábrica era, à semelhança de muitas outras do género, o sustento da maior parte da gente naquela terra. Os próprios cafés, a mercearia, o talho, o supermercado, o cabeleireiro, a escola e até mesmo a florista viviam em torno da fábrica. Antes da fábrica vivia-se da agricultura e a pequena vila não tinha quase nada. Depois cresceu, algumas das pessoas que trabalhavam no campo tornaram-se operárias e os fios dos teares entrelaçaram-se com as veias daqueles habitantes.

Entretanto começaram a ouvir-se notícias das “deslocalizações” de outras fábricas para sítios onde a mão-de-obra era mais barata. O patrão usava desse argumento sempre que se discutiam aumentos de salários. Algumas das trabalhadoras tornaram-se mais medrosas. Ele falava na impossibilidade de manter o posto de trabalho de todas, e lamentava. Tudo em nome da competitividade. Os delegados sindicais lembravam as contas e até se faziam contas em grupo. O lucro continuava a existir. O patrão continuava a conduzir o seu reluzente BMW pelas estradas esburacadas e enlameadas da vila. Continuava a habitar num monstruoso casarão cheio de mármores e com uma sumptuosa piscina. Mas a liberalização do mercado dos têxteis à China foi o que despoletou a decisão final.

Naquele dia o bolo de anos soube-lhe mal. Toda a vila se enlutou e até o padre na homilia lamentou. E as operárias sentiram que lhes retiravam o ar para respirar. Sentiram-se injustiçadas: que culpa tinham aquelas mulheres das relações macroeconómicas? Tinham a certeza da qualidade e da necessidade do seu trabalho. Sabiam que com melhores máquinas e melhor formação podiam fazer tecidos ainda melhores, mas que o patrão nunca lhes deu ouvidos. Sabiam que havia gente sem dinheiro para se agasalhar. Sabiam que podiam ter sido tomadas medidas para que os seus produtos fossem preferenciais no mercado português. Sabiam que as operárias chinesas, e as operárias do leste europeu também passavam dificuldades. Reviram, cada uma delas, a sua vida e o que poderiam ter feito para evitar o encerramento da fábrica. Imaginaram o negro futuro. Famílias sem sustento, a vila sem vida e a vida sem sentido.

Não quiseram que o desespero e o sentimento de impotência tomassem conta delas. Reuniram-se ali mesmo entre as bobines coloridas e, pela primeira vez, com as máquinas em silêncio e decidiram: “Não saí nem um liço!”. E todos e todas, sem excepção, desde as operárias, ao pessoal da tesouraria, da manutenção, do desenho, montaram um acampamento em frente ao portão por onde a Joana tantas vezes entrara a chupar uma azeda.

A televisão que chegou para o enterro. Nunca referiu uma só palavra sobre a dedicação ao trabalho e a competência daquela gente. Não ouviu as razões que levaram aquelas mulheres a aderirem à greve geral. Preferiu passar os telediscos da Shakira do que a linda voz da Marta (uma das trabalhadoras). Mostrou inúmeras vezes o talento do Cristiano Ronaldo e nunca se referiu à precisão das cerezideiras portuguesas. A câmara procurava a dor e a angústia e pela frente apareceu a Joana gritando: “Daqui não arredamos pé! A fábrica é nossa! Nós sabemos como a por a trabalhar e não vamos deixar sai nada de lá de dentro!”.

domingo, maio 15, 2005

Hundertwasser - habitação social em Viena Posted by Hello

Hundertwasser - selo cubano Posted by Hello

Hundertwasser - via para o socialismo Posted by Hello

terça-feira, maio 10, 2005

ARTE DE TRANSFORMAR XXXII

A propósito dos 60 anos da derrota do nazi-fascismo

Poemas relacionados com "O Manual de Guerra Alemão"

*
Muitas coisas aumentarão com a guerra
aumentarão
As posses dos poderosos
E a pobreza dos que nada têm
O discurso dos governantes
E o silêncio dos governados.

*
Se se dividirem as terras dos Junkers
Não há necessidade nenhuma de conquistar as terras dos camponeses da Ucrânia.
Se se conquistarem as terras dos camponeses da Ucrânia
Mais terras terão os Junkers.

*
Os que estavam em guerra contra o próprio povo
Fazem agora a guerra aos outros povos
Aos antigos escravos
Outros devem juntar-se.

*
Sob as árvores da aldeia as raparigas
Escolhem os namorados
A morte
Também escolhe
É possível
Que nem as árvores sobrevivam.

*
Noite.
Os casais
Vão para a cama. As jovens
Mulheres parirão órfãos.

*
Os que vão envelhecendo vão
Depositar dinheiro nas caixas económicas.
Diante delas carros estacionam:
Vão buscar o dinheiro
Para as fábricas de material de guerra.

*
Para que conquistar mercados para as novas mercadorias
Que os operários fabricam?
Os operários
De bom grado ficariam com elas.

*
O Führer dir-vos-á: a guerra
É para quatro semanas - no Outono
já estareis de volta. Mas
O outono virá e passará
E denovo há-de vir e muitas vezes há-de passar
Sem que de volta estejais.
O pintor dir-vos-á: as máquinas
Encarregar-se-ão de tudo - muito poucos
Serão os mortos. Mas
Vós morrereis às centenas de milhares, tantos
Que em tempo algum, ou terra alguma, se viu morrer assim.
Quando eu ouvir dizer que estais no Cabo Norte
Ou na Índia, ou no Transval, saberei apenas
Em que lugar poderão um dia
ser encontrados os vossos túmulos.

Bertolt Brecht

segunda-feira, maio 09, 2005

Frase dita ao telefone:
"diz-lhe! diz-lhe que o teu amor não se divide, só se multiplica!"

Estarei a tornar-me numa espécie de Dalai Lama das relações liberais?
Ainda por cima por assistência remota...
SOCORRO!

sábado, maio 07, 2005

Catarse com suporte literário

Primeira leitura
Patrick Suskind
Um combate e outras histórias – conto Amnésia in litteris

Um desabafo de alguém que não retém na memória as leituras que faz. Identifiquei-me muito com este conto. Eu também esqueço com facilidade os livros que leio, romances sobretudo. São poucos os que me ficaram gravados no cérebro. Uma dessas raridades, e ainda assim com lacunas no que toca aos pormenores, é o que descrevo a seguir.

Segunda leitura
John Steinbeck
Ratos e Homens (Of mice and man)
Conta a história de dois jovens que trabalham sazonalmente em grandes quintas nos EUA. Um deles, Lennie é descrito como uma criança gigante. É grande, corpulento, cheio de força e profundamente ingénuo (com algum atraso mental se bem me recordo). Tem uma enorme necessidade de manifestar o seu afecto. Fá-lo com ratinhos do campo; afaga constantemente os pequenos animais que, invariavelmente, acabam por morrer sob uma tortura de festas. A dada altura afeiçoa-se à mulher do dono da quinta (se a memória não me falha). O amor puro que sentia transfere-se episodicamente para ela: Lennie perdera mais um vez um dos seus animais de estimação, desta vez um cachorrito, e a mulher, sentido compaixão pelo rapaz, deixa-o fazer festas no seu cabelo que, levado pela sua imensa ternura dá-lhe um abraço mais apertado e mais festas pelo rosto e cabelo. Ela grita e ele assustado lança-lhe as mãos à garganta acabando por estrangulá-la.
O livro aprofunda ainda, com a subtileza de um grande romance, os muitos modos de entender e manifestar o amor e a amizade.

Terceira leitura

Bertolt Brecht
poema Da violência
Do rio que tudo arrasta se diz que é violento.
Mas ninguém diz violentas
As margens que o comprimem.

Serei eu agressiva e insensível por negar vezes sem conta esse afago que me sufoca ou será violento quem não entende o não e insiste em querer obrigar-me a aceitar, na esfera da minha intimidade, todo esse generoso carinho?

domingo, maio 01, 2005

*Vermelhices (Comentários Políticos) XVI*

1º de Maio na Horta Posted by Hello


O tempo estava instável. Logo pela manhã os camaradas da União dos Sindicatos da Horta receavam o pior. Mas depois, felizmente, foram mais as abertas que as nuvens de chuva. A ira de São Pedro contra os sindicalistas ainda se fez sentir e o vento arrancou uma das tendas presas nos espaços do chão empedrado na praça frente à câmara municipal. Mas nada de grave. Tudo correu pelo melhor.
O cenário da festa dos trabalhadores lembrava um qualquer filme do neo-realismo italiano: a luta ao lado dos mais intricados rituais populares. A igreja como pano de fundo de uma sardinhada laboral. Copos de vinho e cerveja, quermesses, crianças a correr, velhos curiosos, imigrantes observadores, jovens que se estenderam pela relva, mulheres de traje tradicional, rapazes fardados e empunhado instrumentos de sopro muito bem polidos. Um homem contava que tinha estado em Lisboa 33 vezes, esteve hospedado na pensão flor e aí aprendeu a pagar com cartões multibanco. E pronunciava multibanco com um enorme deleite. Como se naquela palavra residisse toda a modernidade. Depois calou-se e lamentava nunca ter ido à ilha das Flores. Chegou entretanto a corrida do STAL, todos envergando uniformes amarelos. E talvez porque se tratassem de trabalhadores da autarquia, dois homens lembraram-se e referiram com revolta o oportunismo dos autarcas que, numa atitude eleitoralista e mesquinha, resolveram marcar uma outra sardinhada para o mesmo dia. "Em quatro anos não fizeram nada disso, e logo hoje haviam de fazer o mesmo. Sacanas!" afirmou um deles no fino sotaque do Faial.
O rancho cantava: "(...) trabalho, mato o meu corpo, não tenho nada de meu." Uma rapariga vermelha sentada num banco, também vermelho, reconhecia a música, comovia-se e repetia "não tenho nada de meu".

(ver também Vermelha)

ARTE DE TRANSFORMAR XXXI

1º de Maio em Moscovo - Diego Rivera Posted by Hello


"Maio maduro Maio
quem te pintou?
Quem te quebrou o encanto
nunca te amou."

José Afonso

sábado, abril 30, 2005

PARABÉNS MIGUÉU!

Posted by Hello


Miguel, Migueluxo, Miguelão;
o melhor pintor português
amigo do meu coração.

Como não estou inspirada, lá vai esta nossa musiquita...


COMIDA

Bebida é água.
Comida é pasto.
Você tem sede de que?
Você tem fome de que?
A gente não quer só comida,
A gente quer comida, diversão e arte.
A gente não quer só comida,
A gente quer saída para qualquer parte.
A gente não quer só comida,
A gente quer bebida, diversão, balé.
A gente não quer só comida,
A gente quer a vida como a vida quer.
Bebida é água.
Comida é pasto.
Você tem sede de que?
Você tem fome de que?
A gente não quer só comer,
A gente quer comer e quer fazer amor.
A gente não quer só comer,
A gente quer prazer pra aliviar a dor.
A gente não quer só dinheiro,
A gente quer dinheiro e felicidade.
A gente não quer só dinheiro,
A gente quer inteiro e não pela metade.

Titãs


terça-feira, abril 26, 2005

NOVO BLOG

Até parece que não tenho nada que fazer.
Pois é!
Resolvi fazer um novo blog só para por fotos.
VER VERMELHA
Bem sei que podia registar-me num daqueles que são mesmo para o efeito.
Mas tenho algumas reservas em relação a esses sites:
- só deixam por uma foto por dia;
- todos opinam muito e fazem demasiadas perguntas técnicas;
- sentir-me-ia diminuída ao ver as fotos dos outros (e a minha auto-estima anda nas ruas da amargura);
- não gosto do formato dessas páginas, são muito despersonalizadas;
- não posso por links;
- tinha que arranjar mais um nome de usuário, mais palavra passe, mais endereço de e-mail, etc., etc., etc.

Agora tenho uma máquina jeitosa (fruto das minhas economias de 6 meses) e tenho muito por onde fotografar.

A coisa é para ser encarada como um álbum de fotografias e não como a galeria de uma pretenciosa.

ESPERO QUE OS MEUS AMIGOS DIGAM ALGUMA COISINHA!!! Aqui ou lá!

segunda-feira, abril 25, 2005

É hoje! II

Posted by Hello


Vencendo a sombra, confiantes,
Olham em frente, caminham
Trocando a cor dos instantes
P'los anos que se adivinham.

Houvesse o trevo trazido
Mais sorte à longa jornada
Que outra luz teria sido
Dos olhos a madrugada.

Virgílio Alberto Vieira
(com foto de Eduardo Gajeiro)
in 25 textos de autores portugueses sobre fotos de Abril

PROCLAMAÇÃO - 11h00