terça-feira, abril 19, 2005

ARTE DE TRANSFORMAR XXIX - Rembrandt I

Rembrandt Harmenszoon van Rijn (1606-1669)

A primeira vez que vi o nome Rembrandt foi numa caixa de tintas de óleo na Papelaria da Moda, na Rua do Ouro. Fiquei curiosa. Donde vinha aquele nome tão estranho associado a tintas? Procurei numa enciclopédia (aqueles livros de grande utilidade a que, vulgarmente, nos esquecemos de recorrer, como são aliás quase todas as coisas de grande utilidade. Só nos lembramos delas uma vez. Bom, mas dessa vez dei uso à enciclopédia) e lá encontrei Rembrandt van Rijn, pintor holandês do século XVII (que século tão chato!), identificado com o estilo barroco.

Mais tarde, nas aulas de História da Arte da professora Natalina, lá percebi o que era o barroco. Mas a bota não batia com a perdigota. O Barroco era a arte da contra-reforma: um estilo criado como uma grande operação de propaganda da Igreja (os especialistas do marketing hoje não chegariam aos calcanhares dos promotores do barroco). Jogos de luz e sombra, movimento, monumentalidade. O barroco acentuou o carácter espectacular das igrejas (era preciso fascinar os fiéis): superfícies côncavas e convexas, e volume, cor, brilho, pontos de luz estrategicamente colocados. Tudo com o propósito de subjugar. O aspecto mais dramático do barroco é o urbanismo (sobretudo o do absolutismo). Grandes praças feitas para serem olhadas, eventualmente atravessadas, mas nunca ao serviço das pessoas (a praça como local de encontro desaparecia).

Rembrandt não cabia nesse barroco desumano, de ilusão, de espectáculo. Era a fuga ao estilo, dentro do estilo.

A princípio achava que era um pintor soturno. Muito triste. Pinturas escuras, sem cor, pessoas demasiado reais. Não era, definitivamente, um pintor para uma adolescente imatura e algo pretenciosa como eu era. Só na faculdade voltei a estudar Rembrandt, desta vez com a professora Margarida Calado. Revelou-se então um desses homens que são intemporais porque o seu tempo ainda não chegou (serão o homem novo?), um homem que abraça a dor de todos os homens, que não precisa de regras porque tem princípios, que não se verga, que não se vende. Sem preconceitos e uma grande sede de conhecimento. E não foi um pintor no seio das revoluções sociais e políticas dos séculos XIX e XX, ou da “revolução” sexual, não. Rembrandt viveu a guerra dos 30 anos e a peste negra, num período de moralismo e superstição. Não é coisa pouca.

Ao longo da vida perdeu a alegria e ganhou doçura e sapiência.

A pintura é como o rosto das pessoas, se os conhecermos e olharmos com atenção, dizem tudo. A pintura de Rembrandt é, paradoxalmente, escura, mas translúcida, clara, evidente. Só diz a verdade.

A verdade de Rembrandt e da sua pintura saiu cara. Mas valeu a pena.


Susana e os velhos Posted by Hello

Jorge (PSI20), a pintura mais conhecida é, efectivamente, “A ronda da noite” (querias testar-me, grande safado!), mas eu, como te disse, gosto mais da “Susana e os velhos”.

Voltarei a falar dele, certamente. Talvez amanhã. Agora estou com sono.

3 comentários:

Anónimo disse...

Rapariga Vermelha, gostei dos teus comentários sobre Rembrandt e a sua pintura.

Não percebi a relação jorge com susana e os velhos. Existe alguma coisa que eu desconheça?

Já agora qual é o mais famoso de Vermeer? (A ver se é agora que te apanho...) e deixa lá a enciclopédia em paz....

Beijinhos
PSI20 e XISTO

Anónimo disse...

Nena, este blog é mesmo interminável! E é só cultura!!! Não digo!?

Anónimo disse...

beijinhos