Memórias
Olá Neninha! Tás bem?
Foi mesmo muito fixe jantarmos todos em Algés no outro dia! Foi
mesmo muito fixe! Temos que fazer mais coisas quando estás cá...
Olha aí em anexo a Nena gira e revolucionária que eu conheci há
uns... 11 anos (será isso?!).
Agora trintinha também andas charmosa, os Açores que se cuidem!...
bjinhos, Miguel.
Sim, foi há 11 anos!
Foi depois de muita coisa e antes de muitas outras.
Foi o ponto de viragem. O mais importante da minha vida até aqui.
Há pouco mais de 11 anos decidi que não podia ficar parada.
Uma semana antes desta foto ser tirada (mais coisa, menos coisa) fui à Rua Sousa Martins fazer-me militante da JCP.
Lembro-me bem deste dia! Tínhamos estado (eu e o Miguel - dois do trio maravilha) na véspera, numa festa de Belas-Artes, a delinear estratégias. Durante alguns meses fizemo-lo várias horas por dia: estabelecemos meticulosamente um plano para ganhar a AE e tudo o que faríamos quando lá chegássemos. Bom, acho que fizemos planos para os cerca de 7 anos em que lá estivemos. Andávamos sempre nisto; de tal maneira que havia quem achasse que éramos namorados. Perdi o último comboi para a Amadora e fui dormir a casa do Miguel em Cascais.
Agora trintinha olho para esta foto e vejo que na minha cara estão marcados esses 11 anos. Com tudo de bom e de mau: os sete anos de AE – as intermináveis reuniões de direcção; as idas às turmas, as RGA, os "bichos" para as manifs, as cartas, o registo de correspondência, o fundo de maneio, os arquivos, as idas à "branquinha", a máquina das fotocópias e a ocupação da reprografia, a ocupação da AR, os AE informa e as idas aos bolos às três da manhã, o Garção Cabrão, a Clara Menéres, as comissões de finalistas, os matraquilhos, os horários, os advogados preguiçosos, a Maria, as corridas para a cantina à última da hora, as reuniões com o reitor, as reuniões do senado, os ENDA, as conversas ao telefone, a compra do primeiro computador para a AE, os relatórios de actividades e contas, os problemas pedagógicos, os bilhetes para o teatro e o esquema de distribuição democrático, a sala de computadores para os estudantes, as discussões sobre o regime de precedências, etc., etc., etc. Os anos de JCP – as distribuições, as vendas de autocolantes, os debates, os plenários, as festas do Avante!, os colectivos, os contactos, as resoluções sobre política educativa, as campanhas de recrutamentos e recolha de fundos, as quotas, a venda do Agit, as DCES, as CNES, os panos, as conversas, etc., etc., etc. Os amigos - as idas à tasca e à cantina de Veterinária, a cantina velha, a cantina nova, a cantina do Técnico, a cantina da Politécnica, a cantina do ISEG, a cantina de Belas-Artes (bolas! ainda hoje, na sala de professores, quando como a sopa na tigela de metal lembro-me das cantinas universitárias), as poucas idas ao cinema, as poucas idas ao teatro, os copos no Bairro Alto, as conversas com a SP em minha casa, as conversas com a SP no tempo em que ainda só eu e ela é que fazíamos jornadas nocturnas na festa!, as conversa no terraço e no pátio das Belas-Artes, ouvir Guantanamera na antiga sala da AE, etc., etc., etc. Os anos que se seguiram ao curso - dar aulas no Cacém, no Monte-de-Caparica, na Voz do Operário, em Sobral de Monte-Agraço, em Sacavém (foram várias centenas de alunos. O que lembro melhor: o Fernando Ginga), os amores que não resultaram, os amores que não aconteceram, o desemprego, a depressão. O trabalho do Partido - a Reboleira e os grandes camaradas que lá conheci, a autarquia, os professores, o trabalho da festa!. A família - o nascimento do David, as idas e vindas da minha mãe, as idas e vindas do meu pai, a presença constante do meu irmão Pedro, os amores e desamores de todos nós, os problemas financeiros e as burocracias, a Rosa e a Piruette e, agora as duas sobrinhas que estão a chegar.
Tudo ficou marcado no meu rosto.
Neste dia apanhava o comboio de Cascais para Lisboa com o Miguel.
1 comentário:
A minha vida parece um bocado vazia ao pé da tua. Ou talvez não tenha sistematizado na minha memória rápida o que fiz nos últimos 11 anos.
Agora me lembro que fez em Março último 11 anos desde que entrei para a JCP. Já tinha decidido que queria entrar na JCP há já vários meses, até que um dia bati à porta da Sousa Martins (já conhecia a sede pois tinha-me inscrito no concurso de fotografia da JCP na festa de 93) e apareceu o João Frazão, que hoje está na Comissão Política do Partido. Perguntou-me o que queria, disse-lhe que queria increver-me na JCP. O Frazão estendeu-me a mão e apresentou-se: Chamo-me João (ele e não eu). Assim que entre tive uma reunião introdutória com o Ricardo Oliveira.
E depois veio o colectivo do Técnico, do Agit, a Direcção do Superor de Lisboa, da Direcção Central do Ensino Superior, dois Congressos, Associação de Estudantes, Comissões Anti-Propinas, combates com direitistas tecnocráticos, esquerdistas inconsequente, e até um UDP em que a Albânia pulsava no seu coração, e, no limiar da passagem ao Partido, o meu contributo no combate contra quem queria desviar este Partido daquilo que os seus militantes queriam que fosse.
Poucas coisas houve que mudaram tanto a minha vida como a JCP.
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