*Vermelhices (Comentários Políticos) X*
No ano de 1961, angolanos rebelados do poder colonial português pegaram em catanas, invadiram prisões e destruíram interesses portugueses, dando início à luta armada. Mas a luta dos angolanos é uma luta antiga. Desde que os portugueses pisaram o território que é hoje Angola que os Kimbundus, e mais tarde Umbundus e Nianecas ofereceram resistência à ocupação. Uma resistência cuja história é feita de heroísmo, dignidade, inteligência, mas também de oportunismos e traições. A história de Angola é a história do mundo desde os "descobrimentos", das relações económicas que ao longo de séculos se foram estabelecendo e sedimentando, a história dos muitos milhões de seres humanos caçados e transportados como gado para o outro lado do Atlântico, aqueles que juntamente com degredados e índios construíram a América, a história dos que, com armas rudimentares impediram os portugueses, durante anos, de transpor o rio Cunene, é a história da astúcia de uma rainha que não se rebaixou aos holandeses, de sobas que defenderam Benguela com unhas e dentes, de um médico, poeta e comunista amado pelo seu povo, do comandante Hoji Ya Henda e do pioneiro Ngangula, é a história de uma independência que a direita (e a pretensa esquerda do PS) tardaram em aceitar e prontamente atacaram, é a história de uma das mais sangrentas e sofridas guerras da humanidade, de um país que por estar carregado de diamantes e petróleo não tem descanso, é também a história das estórias de belas mulheres, homens valentes, de danças, de embondeiros, de palancas, de welwitschias mirabilis, de marimbas e jacarés. É uma história que não se conta porque não convém, porque se transmitiu por tradição oral e não existem antropólogos, arqueólogos e historiadores com interesse ou meios para a escrever, porque está a apodrecer no arquivo histórico ultramarino, porque o seu povo ainda é maioritariamente analfabeto (58%).
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