*Vermelhices (Comentários Políticos) VIII*
Regicídio
Curioso
Muito curioso
Temos um regime que se diz reger pelos ideais da Revolução Francesa, aquela que foi um autêntico banho de sangue; uma república tomada a ferro e fogo pelos chamados “heróis da rotunda”, precedida de um regicídio. E ainda há quem venha falar nos “exageros”, na “agressividade” e “violência” do PREC, dar graças pelo 25 de Novembro, e justificar alterações constitucionais com base no argumento dos tempos conturbados que, dizem eles, felizmente foram ultrapassados.
Só mentalidades retrógradas e reaccionárias podem produzir estas afirmações.
Como se a monarquia tivesse de ser restaurada porque houve um regicídio. Como se devêssemos voltar à monarquia absolutista porque houve uma guerra civil. Como se tivéssemos que abolir os princípios do iluminismo porque existiu uma revolução francesa.
O acto fundador de um regime é sempre carregado de violência.
E não existe maior legitimidade do que a revolucionária.
Há alguém que conteste isto? Há alguém que negue que o acto constituinte não contou com o apoio activo popular? Há alguém que diga que as revisões constitucionais que se seguiram tiveram a mesma participação por parte do povo português?
As descrições do regicídio de 1 de Fevereiro de 1908 são impressionantes.
O Rei D. Carlos e D. Luís Filipe são assassinados a tiro, no Terreiro do Paço, à entrada da rua do Arsenal, quando regressavam de uma longa estadia em Vila Viçosa. O rei foi aconselhado a ficar por lá devido à grande instabilidade que se vivia sob a ditadura de João Franco. As leis da censura e a carga de impostos foram dois dos aspectos que mais contribuíram para a crise política. O regicídio foi decidido depois de o rei ter despachado a ordem de prisão de dirigentes republicanos. Miguel de Unamuno diz que o assassinato do rei se impunha como uma necessidade. O rei jamais abdicaria do trono e vivia distante e desprezando o seu povo. Aprovava cegamente as decisões dos conselheiros. Centenas de pessoas esperavam a chegada do rei e fazia-se silêncio como se tratasse de uma conspiração colectiva. E assim era, pelo menos em parte. Vários homens encontravam-se estrategicamente dispostos no Terreiro do Paço para entrar em acção consoante o percurso da carruagem. Um deles era Aquilino Ribeiro. No entanto os autores do “saneamento real” foram Manuel Buiça (professor primário) e Alfredo Luís Costa (caixeiro), mortos de imediato pela polícia. João Sabino Costa (oficial de ourives), inocente, também foi morto. Estes homens foram sepultados no cemitério do Alto de S. João e nos anos que se seguiram ao regicídio as suas campas foram objecto de romarias. A bala que se destinava ao príncipe D. Manuel foi desviada, segundo reza a história, por um ramo de flores que a rainha D. Amélia segurava.
Nos meses que se seguiram, e até à implantação da república, continuou o dito clima de conspiração.
1 comentário:
É nojento defenderem-se assassinios. Os "vermelhos" são sempre bem democráticos.
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