ARTE DE TRANSFORMAR XIV - Sem Tréguas
“Os gapistas[1] nunca foram muitos: uns eram muito jovens, outros tinham atrás de si a experiência da guerra de Espanha e a severa disciplina da luta clandestina, do cárcere fascista, do desterro. Todos, no difícil momento da acção, nos dias dramáticos da acção mais violenta, quando a vida estava presa por um fio a uma denúncia, a uma rusga casual, todos, jovens e velhos, souberam encontrar força e consciência para não desistir, Antes de mais, os gapistas foram homens que amavam a vida, a justiça; acreditavam profundamente na liberdade, ansiavam por um futuro de paz, não actuavam por ambição pessoal, por oportunismo, por cálculos mesquinhos.Eram super-homens? Claro que não. Eram simplesmente homens, mas homens dominados pela vontade de não dar tréguas ao inimigo. O seu orgulho tinha raízes profundas: conscientes do sacrifício de todos os que corajosamente tinham sofrido a prisão, as perseguições, as torturas, guiavam-se pela sua grandeza e pelo seu exemplo. Sem a autoridade dos velhos militantes que tinham sofrido a prisão, o desterro e o exílio, não teria sido possível aos dirigentes exigirem dos gapistas, dos partigiani[2] a disciplina mais severa, que levava em muitos casos à morte mais trágica, nem os combatentes terem ânimo para a enfrentar. Era só orgulho e entusiasmo o espírito que deu alento aos gapistas? Era um laço de confiança mútua entre os velhos militantes e os jovens, entre os que tinham mostrado saber manter-se no rumo certo abrindo novas perspectivas e os que se inseriam numa luta que era a luta de sempre contra a prepotência, o privilégio, a escravidão. Não há dúvida que sem os antigos laços entre o presente sombrio e o passado glorioso, não teria havido guerra de libertação, não teria sido resgatada a vergonha do fascismo, «não teríamos conquistado o direito de ser um povo livre e independente».(…)
A pouco e pouco estes homens souberam juntar à sua volta outros combatentes que se lançaram com determinação no combate e lutaram com inteligência e coragem até à libertação.O relato das suas actuações não pretende ser só uma ampla citação, de episódios de guerra. Sem Tréguas contem uma lição muito profunda, tão válida hoje como ontem. É uma lição que os homens, os jovens que estiveram envolvidos em batalhas dramáticas, passaram a outros homens, a outros jovens, entregues hoje ao trabalho ou ao estudo, para que saibam lutar pelas instituições livres, a justiça, a liberdade, a democracia. Também hoje é preciso quebrar as resistências ao progresso, é preciso conquistar uma maior democracia nas fábricas e nas escolas; também hoje é preciso lutar pela paz no mundo; também hoje, afinal, é necessário lutar sem tréguas.(…)
Aos jovens cabe agora continuar no caminho certo, continuar a Resistência.”
In Giovanni Pesce
Sem Tréguas,Edições Avante!
[1] - De GAP - Grupos de Acção Patriótica
[2] - Assim se designaram os resitentes italianos da Segunda Guerra Mundial
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